São Paulo, sábado, 7 de janeiro de 1995
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Justiça social

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Impressionou, sem dúvida, a todos a ênfase que o novo presidente concedeu à justiça social. Liberdade já temos e pode sempre ser aprimorada. Desenvolvimento vai, aos poucos, sendo obtido. Falta, no entanto, a justiça social, uma vez que persiste e cresce a desigualdade gritante entre os brasileiros que possuem fartura de recursos e os milhões de excluídos.
As palavras do presidente consolidam a esperança de que a meta principal do atual governo seja a de criar condições dignas de vida para os que sofrem fome e miséria. O discurso inaugural mereceu aplauso. Precisamos, agora, somar esforços para realizar esse programa.
Quanto antes, melhor. Este é, aliás, o apelo da Campanha da Fraternidade de 1995, que desperta as comunidades para o compromisso da caridade cristã, conforme a lição de Cristo, "Bom Samaritano", que vai ao encontro do homem assaltado e ferido na estrada.
O cristão encontra, assim, na motivação evangélica, razão ainda mais forte para assumir a Justiça Social como exigência prioritária da cidadania.
O programa governamental há de se explicitar em várias dimensões. Podemos, no entanto, com o intuito de assegurar nossa colaboração, lembrar algumas necessidades mais urgentes.
1ª) A atenção ao Nordeste. O drama da seca periódica, a apropriação indébita por parte de poucos dos recursos destinados a esta área, dezenas de anos de migração forçada, precariedade das soluções aplicadas até o momento, tudo isso demonstra que é chegada a hora de elaborar um plano adequado, que garanta a todos os brasileiros do Nordeste as oportunidades de desenvolvimento.
2ª) O acesso à terra, oferecendo soluções rápidas para os que desejam viver na área rural, muitos dos quais se encontram organizados nos movimentos dos sem-terra. Estes grupos têm revelado capacidade de trabalhar em conjunto e com boa produção. Medidas mais eficazes e orientações do novo Congresso poderão acelerar o acesso à terra, sob várias modalidades. Incentivos, financiamento e apoio tecnológico hão de sustar o êxodo rural e devolver ao homem do campo condições estáveis de moradia e trabalho. Cabe ao Incra continuar o bom desempenho que alcançou nos últimos meses.
3ª) O estímulo às organizações não-governamentais que se dedicam a servir na área da educação e saúde, no atendimento a meninos de rua, pessoas idosas e portadores de deficiências e em tantos outros setores. A nova coordenação prevista pelo governo na área social saberá manter os benefícios de utilidade pública e filantropia, bem como assegurar recursos que permitirão a essas organizações exercer seu idealismo e desenvolver ainda mais suas atividades. Ao mesmo tempo em que essas e outras iniciativas hão de ser promovidas pelo governo, com a participação da sociedade organizada, será necessário zelar pelos valores éticos sem os quais não haverá Justiça Social.
Espera-se, com efeito, que os governantes e representantes do povo dêem exemplo de amor ao trabalho, de comparecimento ao Congresso, de austeridade e atitude solidária com o povo.
Não será, assim, concebível que o Congresso vote aumentos para os membros do governo, enquanto nada se concede aos que ganham salário mínimo ou parcas retribuições. O testemunho de vida honesta e preocupação com o bem do povo hão de fundamentar ainda mais a esperança de que a justiça social vai mesmo acontecer em nosso Brasil.

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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