São Paulo, sábado, 7 de janeiro de 1995
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Os riscos de uma economia aberta

ADROALDO MOURA DA SILVA
OS RISCOS DE UMA ECONOMIA ABERTA

A situação no Brasil é muito outra. Primeiro, a política cambial aqui é mais flexível que a mexicana. Aqui não há nenhum compromisso de manter fixa a taxa de câmbio. A possível valorização da taxa de câmbio pode bem ser compensada por ganhos nas relações de troca com o resto do mundo, por ganhos de produtividade do setor industrial brasileiro e, mais que tudo, pela simplificação e eliminação de tributos indiretos que oneram o custo do produto brasileiro no exterior.
Caso não ocorra nenhuma dessas possibilidades, a reversão dos possíveis saldos negativos podem bem ser enfrentados com uma política cambial mais agressiva.
Segundo, os efeitos do afluxo de capitais forâneos no Brasil não são os mesmos que no México. Aqui tem provocado acumulação de reservas internacionais, pressionado a expansão monetária e produzido realocação de ativos financeiros entre residentes e não-residentes. No México, tem financiado a expansão do consumo e do investimento. A possível reversão desses fluxos, pois, podem ser mais facilmente administrados no Brasil. Já no México, devem implicar redução dos níveis de consumo, produção e emprego.
Terceiro, há no Brasil instrumentos de política, tributos e controles administrativos mais eficazes que no México para controlar os fluxos de capitais, especulativos ou não. Na verdade, uma redução da posição de reservas internacionais, neste momento, muito ajudaria a condução da política monetária e o sucesso do Plano Real. Deixaria de pressionar a dívida pública para cima e poderia estancar a valorização e até desvalorizar o real.
É preciso entender que não há forma de se escapar dos riscos de uma economia mais aberta. O Brasil precisa de capitais e tecnologia forânea e para tanto será necessário produzir um saldo negativo no Balanço de Transações Correntes com o resto do mundo.
A única questão é saber qual o nível de déficit que será possível sustentar nos próximos anos. Uma política econômica responsável é a melhor apólice de seguro contra o risco de distúrbios financeiros externos. A nova equipe econômica tem tudo para em bom tempo enfrentar e monitorar essa situação.
É também evidente que a crise mexicana afetou negativamente a valorização do mercado acionário no Brasil. Mas isso é temporário e não afeta os fluxos normais de consumo, investimento e produção em nossa economia.
A coisa mudará de figura se desastre de igual força se abater sobre a economia argentina. Neste caso, os fluxos de comércio seriam afetados e por aí poder-se-ia atingir negativamente os níveis de emprego e produção no Brasil. No caso do México, os efeitos estão restritos aos mercados especulativos...

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