São Paulo, domingo, 8 de janeiro de 1995
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Darcy enfrenta câncer com livros

Senador confia que vencerá doença

CRISTINA GRILLO
ENVIADA ESPECIAL A MARICÁ (RJ)

Deitado numa rede em sua casa em Maricá (região litorânea, a cerca de 50 km do Rio), o senador Darcy Ribeiro (PDT-RJ), 72, tem passado os dias ditando um novo livro para sua secretária.
Darcy está com câncer de novo. A doença, que desta vez começou na próstata, se espalhou em metástase (aparecimento de focos secundários do tumor). Os remédio o fizeram perder os cabelos. Darcy não anda e passa os dias deitado, assistido por um enfermeiro.
Apesar da doença, Darcy decidiu não paralisar sua produção intelectual. "Quando percebi que as pessoas começavam a achar que eu ia morrer, resolvi terminar de escrever as coisas que venho pensando nos últimos anos. Não posso morrer sem terminar uma análise da trajetória brasileira nos últimos 30 anos", disse o senador e antropólogo na sexta-feira à tarde à Folha.
Há cerca de um mês, ele concluiu "Gestação do Brasil". Agora se dedica a outro volume, com título provisório de "Estudos Brasileiríssimos".
O próximo livro também começa a ser elaborado. "Eros e Tanatos" trará poesias eróticas que Darcy vem escrevendo. "Não dá mais para namorar, então eu escrevo", diz Darcy, que elogia "o conteúdo do vestido" da repórter.
"Já derrotei um câncer há 20 anos. Vou derrotar esse também", afirma Darcy, referindo-se à doença que o fez perder um pulmão.
Para vencer a doença, desta vez, ele resolveu fugir do hospital onde estava internado há 21 dias. "UTI é uma merda, UTI fede. Só fica lá quem está querendo morrer. Um monte de gente gemendo, esperando a morte. Pedi para o médico me dar alta. Ele não deu, então fugi", explica.
A fuga foi tramada com a ajuda de um amigo médico, cujo nome ele não divulga. Na semana passada, o médico estacionou seu carro dentro do Hospital Samaritano (Botafogo, zona sul) e subiu para a UTI. De lá, saiu com Darcy numa maca, afirmando que o paciente precisava fazer exames. "Quando cheguei lá embaixo, o carro já estava me esperando. Foi só pular da maca para o carro", diz Darcy.
Os dois foram direto para a casa que Darcy Ribeiro tem em Maricá –um projeto do amigo Oscar Niemeyer, com os cômodos voltados para o mar.
Vaidoso, o senador lamenta ter perdido os cabelos por causa da quimioterapia. "Sempre fui muito bonito, charmoso. O Itamar morria de inveja do meu topete no Senado", conta.
Em seu retiro em Maricá, Darcy vem recebendo a visita dos velhos amigos. Leonel Brizola já esteve lá três vezes. Numa das visitas, levou o presidente de Portugal, Mário Soares. Niemeyer também já visitou o senador.
Na próxima semana, Darcy irá ao Rio fazer exames médicos. "Fugi do hospital, mas tenho que continuar me tratando. Vou ao Rio, faço os exames e volto", disse.

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