São Paulo, domingo, 8 de janeiro de 1995
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'Viúvas' lutam por herança de bilionário de BH

HÉLCIO ZOLINI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

As "viúvas" do bilionário mineiro Antônio Luciano Pereira Filho, dono de uma das maiores fortunas do país, começam a reivindicar seu quinhão da herança, quatro anos e meio após a morte dele.
O empresário e advogado Lhano Nelson, 38, um dos filhos ilegítimos de Pereira, diz que deve chegar a pelo menos dez o número de "viúvas" deixadas por seu pai.
Segundo Nelson, as "viúvas", entre as quais sua própria mãe, Darcy Nelson, não procuraram a Justiça antes para não prejudicar os processos movidos pelos filhos.
Pereira Filho tem 28 herdeiros. Três são apontados como filhos legítimos. Os outros 25 seriam filhos que Pereira teria feito fora do casamento, o que justificaria sua fama de "garanhão" em Minas.
Pelo menos uma das "viúvas", Maria Ilda Rocha, já ingressou na Justiça. Ela afirma ter vivido com Pereira Filho durante 15 anos.
Para provar, juntou ao processo - que entregou à Justiça há dois meses - fotos suas com o amante na cama e em outras situações.
Estimada em cerca de US$ 4 bilhões, a herança de Pereira Filho já foi quase toda dividida em um acordo assinado pela maioria dos filhos ilegítimos.
Coube aos três filhos matrimoniais - Antonio Luciano Neto, Ana Lúcia Pereira e Clara Luciano Pereira - a maior parte da fortuna.
Como sucessores do pai, os filhos legítimos participaram também da divisão da parte que coube aos outros 25 irmãos, que para terem direito à herança tiveram de se submeter a testes de DNA.
Apenas Nelson, por discordar dos critérios adotados para avaliar o patrimônio do pai, se recusou a aceitar a parte que lhe caberia pelo acordo firmado por seus irmãos.
"Pelo acordo, cada um dos 25 filhos ilegítimos recebeu, em média, US$ 8 milhões, quando deveria ter recebido US$ 40 milhões."
Segundo Nelson, o lucro das empresas também não entrou nos cálculos. "Mas, infelizmente, meus 24 irmãos se deram por satisfeitos e assinaram os documentos."
Nelson diz que pretende "desatar o nó" dado pelo pai ao colocar todos os bens numa sociedade anônima - a Fayal S/A -, onde, segundo ele, o acesso à contabilidade é praticamente impossível.
O advogado disse que está ingressando na Justiça para ter acesso às contas das empresas do pai.
'Garanhão'
Além da veia de empresário "ardiloso e criativo", Pereira Filho se transformou numa lenda em Minas. Ele tinha fama de gostar de seduzir meninas virgens.
Entre os casos revelados pelas investigações de paternidade por meio de exames de DNA, consta até o de mãe e filha, ambas seduzidas e engravidadas por ele.
"Passarinho não tem pai, só mãe. Passarinho tem filho com suas filhas porque a figura do pai não existe", declarou Pereira em entrevista à revista "Veja", na edição de 2 de maio de 1984.
Pereira começou a enriquecer com agiotagem quando ainda estudava medicina. Emprestava dinheiro aos colegas e cobrava juros altos pelo empréstimo.
Acusado de "grileiro", era dono de mais de 80% das cidades de João Pinheiro, Buritis e Santa Fé.
Na cidade de Luciânia, onde está instalado seu complexo de açúcar e álcool, chegou a ter uma moeda própria, o "luciano". A "moeda" acabou proibida pelo governo.
Pereira foi seduzido também pela política e se elegeu deputado federal pelo antigo PSD.

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