São Paulo, domingo, 8 de janeiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ALAIN PROST

ANDRÉ FONTENELLE

"Cheguei a hesitar em ir ao funeral de Senna. Mas isso não durou muito tempo"
Folha - Sua presença no funeral de Senna, em São Paulo, causou grande emoção no público brasileiro...
Prost - Eu sei. Foi natural. Hesitei bastante em ir, porque tive medo de ser mal interpretado por certas pessoas.
Mas isso não durou muito tempo, pois acho que era meu dever. Era normal estar lá pela última vez.
(Prost passou de vilão a herói no Brasil quando, no enterro de Senna, afirmou: "Sem ele, eu não seria nada").
Folha - É verdade que suas relações eram cada vez melhores quando Senna sofreu o acidente que o matou em Imola?
Prost - Acredito, ao contrário da maioria das pessoas, que a disputa que tivemos foi bem mais esportiva que humana. Acho que Ayrton tinha um caráter e uma forma de ver as coisas um pouco diferentes...
Ele tinha necessidade de estar em guerra contra alguém para se motivar. E, se estava em guerra comigo, é porque me estimava muito como piloto e me temia, como eu o temia. A partir do momento em que eu não estava mais em competição, ele mudou de opinião e, principalmente, lamentou que eu não estivesse lá para motivá-lo.
Ele deve ter pensado que, no final das contas, tudo o que havíamos vivido fora, de um certo modo, tão bonito que era uma pena, um desperdício, não nos falarmos mais.
Por isso, durante o último inverno (no começo do ano passado), ele fez muitas coisas tentando se aproximar. Seu maior objetivo era que trabalhássemos juntos pela segurança nas pistas. Acho que poderíamos fazer algumas coisas boas juntos.
Folha - Que tipo de projeto seria esse?
Prost - Juntos, talvez tivéssemos mais coisas para fazer do que se pode imaginar. Certamente iríamos lutar por mais segurança nas pistas. Mas só o fato de estarmos juntos e em boas relações já seria um bom projeto.
Folha - A decisão de não mais pilotar em F-1 é mesmo definitiva?
Prost - De qualquer maneira, pilotar o carro dele após aquele acidente era absolutamente impossível.
(Prost chegou a ser cogitado para ocupar o lugar do brasileiro na Williams após a sua morte).
Unicamente por isso. Não sei, alguma coisa se quebrou dentro de mim. Não tenho mais a mesma motivação. Se tivesse certeza de ter um bom carro e de poder lutar contra ele, talvez eu tomasse a decisão de voltar.
Mas isso, agora, não é mais possível. Acabou.

Texto Anterior: ALAIN PROST
Próximo Texto: Francês obteve 51 vitórias
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.