São Paulo, domingo, 8 de janeiro de 1995
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ALAIN PROST

ANDRÉ FONTENELLE
DE PARIS

A luz se apaga no ginásio de Bercy, em Paris. O rosto de Ayrton Senna surge em uma tela e a voz de Alain Prost diz no alto-falante: "Dedico esta noite a todos que levam sua paixão até o fim."
Prost e Senna se enfrentaram pela última vez no mesmo local, na edição anterior do torneio de kart de Paris (uma corrida beneficente organizada pelo ex-piloto francês Philipe Streiff), no final de 1993. No dia último dia 18 de dezembro, o francês voltou ao torneio, com o "S" de Senna no capacete e no macacão.
No competição deste ano, o alemão Michael Schumacher, atual campeão mundial de Fórmula 1, levou a melhor. Prost ficou apenas em terceiro, superado pelo jovem francês Emmanuel Collard.
Mas o tetracampeão mundial, 39, ficou à frente de muitos pilotos da categoria máxima do automobilismo, inclusive os brasileiros Christian Fittipaldi (6º) e Rubens Barrichello (7º).
No final da prova, um repórter da TV francesa disse a Prost: "Nada mal para um aposentado".
A resposta surpreendeu: "Eu ainda sou jovem, vocês vão ver".
Nesta entrevista à Folha, no entanto, o francês garante que não voltará a pilotar na categoria. Ele diz que só retornaria se pudesse enfrentar de novo Ayrton Senna.
O tetracampeão mundial falou sobre sua relação com o piloto brasileiro, o rival que marcou sua carreira, 13 anos de Fórmula 1 (correu de 80 a 91, se afastou por um ano e voltou em 93).
Ele diz que Senna vinha tentando se reaproximar dele e que os dois poderiam ter realizado projetos juntos, em favor da segurança nas pistas, por exemplo.
O piloto brasileiro era, ao contrário do que se pode imaginar, tão popular quanto Prost na França. Pilotando um kart em Paris, o francês tinha o nome de Senna no capacete e na mente.
Folha - Como se sente, voltando ao lugar onde enfrentou Senna pela última vez?
Alain Prost - É muito comovente. É um piloto que fará falta a todo mundo no automobilismo. É, principalmente, uma perda difícil de reparar. É verdade que aqui foi a última vez em que pudemos nos medir um contra o outro, mas foi muito agradável (Prost superou Senna naquela oportunidade).
Eu o vi de uma maneira muito diferente, porque ele era sempre muito profissional e motivado. Aqui, também, ele treinou duro, como eu, mas estava bem mais descontraído, mais relaxado.
Não havia mais, nem de longe, a mesma guerra entre nós.
Foi por isso que eu decidi usar hoje o logotipo de Senna. Todo mundo pensa nele, mas sou eu que devo fazê-lo, com a concordância da família, é claro.
Folha - Como você tomou a decisão de usar o "S", a marca de Senna?
Prost - Achei que seria bom fazer alguma coisa aqui. Eu sofri muito, na França, com a luta contra Senna. É natural, sempre há 50% das pessoas que torcem por um e 50% pelo outro. Mas nem sempre foi saudável, nem muito honesto nem gentil.
Achei que seria bom homenageá-lo na França –de qualquer maneira, não tenho oportunidade de fazê-lo em outro lugar– porque foi aqui a última vez em que estivemos realmente juntos. Foi um período em que ele havia mudado, evoluído muito. Ele queria muito ter contato comigo, tentar reatar relações.
Em uma festa como essa, com todos os pilotos, é importante mostrar, mesmo por pouco tempo, que alguém faz falta e que queríamos que ele estivesse aqui.

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