São Paulo, domingo, 8 de janeiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Vacinação em massa contra a catapora pode ser perdulária

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Atualmente se discute nos Estados Unidos a conveniência de vacinar todas as crianças contra a catapora ou varicela, doença benigna a que em geral poucos pirralhos escapam.
Há uns 20 anos os japoneses desenvolveram contra ela uma vacina que se tem experimentado nos Estados Unidos. Não são poucos, entretanto, os que criticam essa prática, alegando que o esforço não compensa economicamente, dada a benignidade da infecção, que confere imunidade duradoura. Não obstante os CDC (Centros de Controle e Prevenção) daquele país estão agora se preparando para decidir a respeito.
A varicela é produzida por um vírus do tipo do herpes cujos corpúsculos elementares foram primeiro observados em 1911 por Henrique de Beaurepaire Aragão, no Instituto Oswaldo Cruz.
Ela se manifesta por uma erupção de manchas vermelhas que se transformam em vesículas e depois secam, deixando uma casca que naturalmente cai sem deixar cicatriz, salvo raros casos.
Às vezes vem precedida de pouca febre e outros sintomas gerais, mas raramente manifesta complicações. Depois da cura o vírus permanece latente no corpo e em algumas pessoas volta a manifestar-se mais tarde (exacerbação) como neurite, especialmente nos nervos intercostais, muito dolorosa (zóster).
Apesar de sua benignidade a catapora é responsável por 100 mortes anuais nos Estados Unidos.
A vacinação, por sua vez, embora muito eficiente, poderia ter às vezes consequências desagradáveis. Preparada com o próprio vírus da varicela cultivado em cultura de células e atenuado, sua presença no organismo poderia ser exacerbada, à semelhança do que ocorre no zóster, e ninguém sabe que tipo de reação se poderia desenvolver, embora a hipótese seja pouco provável.
Alguns especialistas argumentam que também se desconhecem o grau e a duração da proteção conferida pela vacina, de maneira que o vacinado poderia ficar exposto, quando adulto, a infecção primária, menos benigna que a doença nas crianças.
Há que considerar ainda o aspecto econômico de uma vacinação em massa das crianças, o que foi apreciado em 1985 pelos CDC. Se levarmos em conta os custos indiretos, representados pela falta dos pais ao serviço para atendimento da criança, e por outros fatores, o preço da vacinação seria relativamente elevado em face de sua importância.
Não obstante, parece que a classe médica favorece a operação, porque a doença pode baixar naturalmente as defesas orgânicas e, pelo menos teoricamente, assim favorecer infecções secundárias em crianças menos robustas.
A varicela é a mais contagiosa das doenças, costumando o contágio ocorrer pelos perdigotos e pelas secreções, pelo contato e pelos objetos de uso comum, assim como pelas simples correntes de ar.
O pico da incidência ocorre entre dois e seis anos, e só os efetivamente doentes são contaminantes, não existindo secretores sãos, apesar da presença oculta do vírus no organismo.

Texto Anterior: Bioética é tão importante quanto aptidão científica
Próximo Texto: Quem surgiu primeiro, o ovo ou a galinha?
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.