São Paulo, domingo, 8 de janeiro de 1995
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Mandela revela suas dúvidas

ROGÉRIO SIMÕES
DE LONDRES

A autobiografia de Nelson Mandela, 76, "Long Walk To Freedom" ("Longa Caminhada Para a Liberdade"), mostra como o presidente da África do Sul teve que fugir dos compromissos familiares para iniciar sua luta política.
Em 617 páginas, o livro traz não só a história do líder sul-africano, mas também as dúvidas e inseguranças que Mandela teve em cada decisão que tomou.
O atual presidente nasceu na vila de Mvezo, no dia 18 de julho de 1918, membro da tribo Thembu, parte da nação Xhosa.
Tinha uma grande admiração por seu pai, homem de grande influência no comando da tribo, morto quando Mandela tinha apenas nove anos de idade. Mandela ganhou então um segundo pai, o regente do povo Thembu.
"Long Walk To Freedom" mostra algumas fraquezas e inseguranças de Mandela, principalmente durante a juventude. Como quando foi circuncidado, aos 16 anos, num ritual.
Depois do corte, sem anestesia, ele demorou para gritar "Eu sou um homem!", como mandava a tradição. "Eu me senti envergonhado porque os outros garotos pareceram mais fortes e firmes do que eu", escreve.
Em 1941, Mandela fugiu de casa, depois que o regente, que lhe reservava um futuro no comando da tribo, informou ter arranjado seu casamento.
Ele se mudou para Johanesburgo, onde iniciou sua aproximação com o partido CNA (Congresso Nacional Africano).
Na Universidade de Witwaterstrand, Mandela conhece Joe Slovo, que ao lado de Walter Sisulu se tornaria um dos mais importantes companheiros de luta do presidente sul-africano.
Mandela escreve sobre sua admiração pela política da não-violência de Mahatma Gandhi, mas também revela os diversos momentos em que a questionou.
A opção pela formação de um grupo paramilitar foi aprovada pelo CNA em 1961, mas a prisão, depois de meses no exílio, chegou antes que Mandela pudesse realmente colocar em prática seus novos conhecimentos de guerrilha.
Dentro do presídio de Robben Island, Mandela travou uma pequena luta contra maus tratos e restrições das autoridades contra os presos políticos.
O livro traz alguns detalhes curiosos sobre a suspensão da pena de prisão perpétua do líder africano, como o momento em que ele e Frederick de Klerk, então presidente do país, definiram os detalhes de sua libertação, em 1990.
O então prisioneiro exigiu caminhar livre pelo portão, ao invés de ser levado de avião para Johannesburgo. Depois que De Klerk concordou, os dois brindaram com um copo de uísque, que Mandela diz ter apenas fingido beber, por achar a bebida forte.
Apesar de passar a ser o "pai de uma nação", como ele escreve, Mandela mostra nunca ter abandonado o forte sentimento que o une à família e ao seu passado de garoto do interior.

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