São Paulo, domingo, 8 de janeiro de 1995
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América Latina fica na berlinda financeira

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A euforia com os mercados latinos começou em 1989. De acordo com o Fundo Monetário Internacional, os fluxos anuais de capital de US$ 8 bilhões nos anos oitenta saltaram para US$ 24 bilhões em 1990 e US$ 40 bilhões em 1991.
O México foi o mais beneficiado, seguido de Brasil, Argentina, Chile, Colômbia e Venezuela.
Como nos anos 70, a principal explicação para essa onda de investimentos foi a redução das taxas de juros nos EUA e no mundo, 1994 foi o ano da virada: por seis vezes seguidas o Fed, banco central dos EUA, elevou os juros. Foi como acender as luzes e desligar a vitrola no meio do baile.
Desde o início dos anos 90, entretanto, a consciência dos problemas associados à volta da América Latina aos mercados internacionais tem sido crescente.
Alguns economistas muito cedo fizeram o alerta. Mercados financeiros mais líquidos e securitizados, por exemplo, exigiriam das autoridades disposição para uma "estreita supervisão das instituições financeiras".
Supervisão que, para ser bem sucedida, talvez exigisse um sistema de tipo alemão: o BC ficaria encarregado de política monetária enquanto uma outra agência, em separado, assumiria a supervisão de mercados e instituições.
Surgiram alertas frente à desregulamentação, globalização e inovação financeira, processos do tipo "faca de dois gumes": os mercados ganham em eficiência mas aumenta a volatilidade.
Surgem "novos e altamente complexos elementos de risco, alguns de natureza sistêmica". O resultado prático é a ocorrência de "mudanças abruptas nos fluxos de crédito". Os próprios balanços das instituições financeiras ficam "mais obscuros".
Outro aspecto dessas mudanças é a possibilidade de os mercados de câmbio ficarem sob o império dos operadores mais atentos aos "ruídos" da conjuntura, ignorando os aspectos fundamentais ou estruturais de cada economia.
Nesse ambiente, uma das maiores dificuldades é "permitir apenas investidores institucionais e deixar de fora os especulativos", especialmente porque os recursos de curto prazo funcionam como uma espécie de batedores, vêm na frente e podem ajudar a criar um horizonte de confiança para os investidores de prazo maior.
Mas essas entradas, se de um lado criam confiança, podem contribuir para valorizar ainda mais o câmbio. Pode ser uma forma de derrubar a inflação e ganhar tempo para reformas estruturais.
Mas fica mais difícil "convencer o eleitorado e a legislatura de que impostos precisam ser elevados ou despesas reduzidas justamente quando há uma tal abundância de financiamento externo".
Talvez seja mais fácil operar "aumentando a imprevisibilidade das mudanças cambiais de curto prazo para ajudar a deter os fluxos de capital especulativo sem afetar negativamente as decisões de exportação de longo prazo".
O governo brasileiro deve estar consciente dessas dificuldades. Pelo menos é o que sugerem as várias citações reproduzidas acima, entre aspas, de um artigo publicado no número de dezembro da "Revista Brasileira de Economia", da FGV-RJ. Seu autor: Edmar L. Bacha, um dos pais do real.

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