São Paulo, domingo, 8 de janeiro de 1995
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Imprensa continua dividida em Berlim

SILVIA BITTENCOURT
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE BERLIM

Cinco anos após a queda do Muro de Berlim, continua dividido o mercado jornalístico da cidade.
Apesar dos esforços promovidos pelas empresas jornalísticas para conquistar o público do outro lado do muro, continua a divisão entre leitores ossis (os alemães-orientais) e wessis (os alemães-ocidentais): os jornais ocidentais não conseguem entrar em Berlim Oriental e vice-versa.
Segundo um estudo do governo sobre a situação dos diários berlinenses de 1989 a 1994, a capital ainda está longe de ser uma metrópole da mídia. Isso apesar de ter a maior concentração de jornais da Alemanha, onde vendem-se diariamente 1,3 milhão de exemplares.
Elaborado por dois pesquisadores da Universidade Livre de Berlim, o estudo mostra que os jornais de Berlim Oriental contam com apenas 6% de seus leitores do lado ocidental da cidade.
O socialista Neues Deutschland (Nova Alemanha), por exemplo, pode ser encontrado nas bancas de Berlim Ocidental, mas não é muito vendido.
Apenas 20% dos berlinenses orientais lêem jornais alemães-ocidentais. Esse é um índice muito abaixo do esperado pelas empresas jornalísticas, que desde a queda do muro investiram montanhas de dinheiro com a reunificação.
É o caso da poderosa empresa Springer, que edita, entre outros jornais, o Bild, o mais popular da Alemanha.
Até 1989, a empresa dominava de 75 a 80% do mercado jornalístico de Berlim Ocidental.
Desde a reunificação, esse índice vem caindo. Hoje, a Springer vende 650 mil jornais por dia em toda Berlim, o que corresponde a 49% do mercado.
Pior é a situação dos jornais menores, como Neues Deutschland, que correm o risco de fechar. Desde 1990 já faliram cinco jornais em Berlim.
Hoje são dez os diários que circulam na capital, entre eles os conservadores Bild e Morgenpost, o liberal Tagesspiegel e o alternativo Taz.
Segundo a pesquisa, até mesmo algumas redações permanecem divididas. Enquanto a maioria das empresas jornalísticas alemãs-ocidentais logo se empenhou em contratar profissionais alemães-orientais, o mesmo não aconteceu nas redações de Berlim Oriental, orgulhosas de terem em seus quadros somente 'ossis'.
Entre as causas dessa divisão, o estudo aponta os interesses diversos de ossis e wessis no que se refere à informação.
Os alemães-ocidentais, de acordo com a pesquisa, parecem cansados de temas como privatização e desemprego na região da antiga Alemanha Oriental.
Já os ossis se mostram sensíveis demais às frequentes reportagens publicadas em jornais alemães-ocidentais sobre colaborações com o antigo serviço secreto alemão-oriental, ou sobre as injustiças praticadas pelo antigo governo socialista.
O estudo também constatou diferenças na própria linguagem usada pelos jornais alemães-ocidentais e orientais, explicadas pelos 40 anos de divisão do país.
Na opinião dos diretores de redação, nem mesmo a transferência do governo alemão de Bonn para Berlim, prevista para os próximos anos, deve superar a divisão.
Eles acreditam que esta permanecerá por mais uma geração.

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