São Paulo, domingo, 8 de janeiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A universidade nos novos tempos

FLÁVIO FAVA DE MORAES

Raras ocasiões foram tão propícias como a atual para a participação da universidade na construção de novos tempos, de um Brasil novo. Enfrentar os desafios que esses novos tempos propõem implica desenvolver uma consciência crítica em busca de uma sociedade mais equânime e justa, que proporcione condições de vida adequadas aos seus componentes.
Implica também promover a articulação da universidade com os setores econômicos, políticos, sociais, culturais e educacionais, para análise dos desafios a serem enfrentados e proposição de alternativas concretas e viáveis para a solução dos problemas existentes.
A universidade, dada a sua estrutura complexa, multifacetada, servindo como centro aglutinador de profissionais e estudiosos, deve desenvolver projetos temáticos integrados que tenham interfaces com múltiplas áreas, e os programas de cooperação entre a universidade e segmentos da sociedade trarão sempre mútuos benefícios.
Aos usuários, permitirão o acesso a fontes de informação e o contato com profissionais atualizados e criativos. Para o mundo acadêmico, esses programas poderão servir para a revisão de seus projetos e estruturas, em busca de uma consonância maior com as necessidades atuais e as antevistas para um futuro que já se desenha difícil e instigador.
Sem dúvida, essa interação será um componente importante no processo de aperfeiçoamento de universidades de pesquisa, como a Universidade de São Paulo, em que o verdadeiro conhecimento deve ser permanentemente perseguido e construído, transmitindo-se essas bases intelectuais aos profissionais em formação, de modo a preservar e disseminar esse conhecimento para servir a humanidade e, em especial, à população brasileira.
É fundamental essa ligação. Não é admissível que as universidades sejam meras fornecedoras de mão-de-obra tecnicamente capaz para o mercado de trabalho, nem que formem passivamente intelectuais retóricos e desligados de nossa realidade. São necessários, sim, profissionais conscientes, instrumentalizados, críticos em relação aos processos em que estão envolvidos, atentos às nossas realidades sociais, tanto quanto os pesquisadores e estudiosos que devem atuar na produção e do querer saber.
Ou seja, formar cidadãos que não entrem em pânico perante o "novo" e sim que consigam interpretá-lo e a ele se adequar com convicção e sem angústias. Para todos, a cooperação frutífera será um caminho lógico, natural, uma vez que cada um reconhecerá o valor do trabalho do outro, permanecendo em sintonia com sua contraparte.
À universidade compete, indubitavelmente, obter dados baseados em pesquisa rigorosa, identificar problemas emergentes –provendo melhores informações sobre os mesmos– e monitorar mudanças. Cabe, principalmente, buscar novas formas de resolver velhos problemas.
Ela deve ser preservada como um centro independente, capaz de analisar vantagens e desvantagens das várias soluções propostas para, depois, informar legisladores, políticos e os cidadãos em geral, dando-lhes a oportunidade de decidir pela melhor escolha.
O espírito do pesquisador deve ficar a serviço dos participantes de uma sociedade democrática na hora de tomar decisões, proporcionando salvaguardas contra as vantagens corporativas que não atendam aos justos interesses públicos e contra o parasitismo de oportunistas medíocres e disparatados.
Considerando o amplo escopo dos objetivos da universidade, é impossível listar o que fazer em cada um de seus muitos campos de ação. Pode-se destacar um, já identificado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso e pelo governador Mário Covas e classificado como prioridade máxima em suas administrações: a educação.
Essa é a pedra angular de todos os esforços para a construção deste país; a chave para permitir à população o acesso à cidadania. Os investimentos (de qualquer espécie) em educação não substituem aqueles que devem ser feitos nas áreas de saúde, transporte, habitação e outras, mas dão a estes um sentido, propiciam seu melhor aproveitamento. A educação universitária, em particular, tem um relevante objetivo a desempenhar na melhoria do bem-estar de nossa nação, em seus aspectos econômicos, tecnológicos, culturais e sociais.
Eis um campo em que as demandas são inúmeras e urgentes incluindo-se aí o estabelecimento de padrões de qualidade do ensino de 1º e 2º graus, a busca de meios para atingi-los –através de programas que atendam a população que não teve acesso à escola, por exemplo– e a integração dos sistemas de comunicação a bons e inadiáveis programas de aperfeiçoamento de professores. A avaliação do conteúdo curricular é hoje imperativa e não pode ser adequadamente conduzida e praticada sem uma participação intensa da universidade.
Mas não basta pesquisar e criticar: é preciso fazer.
Os agentes desse fazer incluem estudantes, profissionais formados e em formação, professores, pesquisadores, funcionários. Todos, exercendo direitos e deveres que lhes permitam atuar de forma integrada, entusiástica e confiante numa sociedade menos injusta e mais moderna que não pode ser sequer pensada na ausência da instituição universitária.
A universidade, servindo como núcleo de apoio indispensável aos órgãos encarregados do estabelecimento de políticas qualificadas, estará, sem dúvida, cumprindo a missão que lhe cabe na valorização da educação nacional.

Texto Anterior: SÃO PAULO NO VERMELHO; NÃO É BEM ASSIM...; 'OPERAÇAO RESGATE'; ESSE CORPO MORENO...
Próximo Texto: Senadores inimigos da pátria
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.