São Paulo, terça-feira, 10 de janeiro de 1995
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Filósofa estuda consciência, tempo e espaço na obra de Henri Bergson

DA REPORTAGEM LOCAL

O trabalho do filósofo francês Henri Bergson (1859-1941) entrou para as histórias mais populares do pensamento sob dois rótulos –o de dois conceitos que desenvolveu.
O de "élan vital" –uma espécie de "impulso criativo" da evolução– e de "duração", que pode ser traduzido, grosso modo, como "tempo vivido.
Compreender como este último conceito e o de espaço se relacionam e se misturam –importante para a apreensão de como se relacionam espírito (ou mente) e matéria– na percepção da realidade é o objetivo da tese "Espaço, Percepção e Inteligência: Bergson e a Formação da Consciência Empírica Humana", de Débora Cristina Morato Pinto.
A dissertação de mestrado foi apresentada ao Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.
O conceito de duração, ou tempo vivido, se opõe ao conceito de tempo elaborado pelas ciências físicas. Isto é, se opõe a uma concepção espacializada de tempo, medido neste caso por um relógio, por exemplo, e o considera através de partes separadas (segundos, minutos, horas etc).
Para Bergson, este "tempo público" é meramente convencional e arbitrário. O filósofo francês analisa o problema através da percepção interior que os sujeitos têm do tempo. O "tempo interior" é quantitativo, sucessivo e contínuo, diferente da marcação espacializada e convencional.
"Bergson ... (disseca) a noção de tempo e a diferencia essencialmente do domínio espacial ao estabelecer as diferenças entre o tempo da física e a duração real", escreve Débora em sua dissertação.
Nas próprias palavras do filósofo (em "Ensaio sobre os dados imediatos da consciência") a duração pura se aproxima infinitamente da "forma que toma a sucessão de nossos estados de consciência quando nosso eu se deixa viver, quando se abstém de estabelecer uma separação entre o estado presente e os anteriores".
A representação (forma como a realidade se apresenta à consciência) espacial, da matéria, cria uma distinção entre as coisas –as numera e separa. "A apreensão da duração pura exige o contrário, a renúncia a esta separação tão familiar", escreve Débora.
Para Bergson, pretende demonstrar a filósofa, a representação do presente (mesmo do espaço que é apreendido pelo sujeito) é ação da consciência que se realiza sobre de um universo duracional de imagens.
A realidade é apreendida como continuidade indivisa. As necessidades humanas práticas a retalharam arbitrariamente (o relógio, por exemplo). Ao filósofo cabe buscar a realidade da experiência –o fluxo contínuo do real.

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