São Paulo, terça-feira, 10 de janeiro de 1995
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Secretário defende hospital comunitário

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O secretário de Estado da Saúde, o médico sanitarista José da Silva Guedes, 58, quer incentivar a criação de hospitais comunitários. Os custos das obras e equipamentos seriam divididos entre Estado, empresas e instituições locais. A administração ficaria a cargo de um conselho formado por representantes da cidade, bairro ou região.
"Um hospital controlado pela própria comunidade me parece o ideal. O Estado teria todo interesse em colocar nessas obras dinheiro a fundo perdido", diz.
Guedes pretende começar com os 23 hospitais que estão em obras no Estado, 17 deles na Grande São Paulo. Alguns estão em construção há mais de dez anos. No conjunto, esses hospitais significarão 4.000 novos leitos.
Para terminá-los, serão necessários R$ 400 milhões em obras e outro tanto em equipamentos.
"O Estado não tem esse dinheiro", diz o secretário.
Uma vez pronto e equipado, o hospital será mantido pelo repasse das verbas do SUS –Serviço Único de Saúde–, que paga pelos serviços, como acontece com as Santas Casas. Ao Estado caberia fiscalizar a qualidade dos serviços e garantir que o atendimento seja acessível a todos.
A parceria com a comunidade seria uma forma de diminuir o déficit de leitos no Estado. Em dezembro, cerca de 1.500 leitos de hospitais públicos estavam desativados na Grande São Paulo, cerca de 30% do total.
Em 1980, o próprio Guedes coordenou um levantamento das necessidades da região metropolitana. A equipe concluiu que faltavam 6.000 leitos e pelo menos 400 novos postos de saúde.
Na época, o secretário da Saúde era o atual ministro Adib Jatene. "Em 15 anos, não se construiu metade do que era necessário na época", afirma Guedes.
A participação da comunidade na administração de hospitais já estaria começando com o Iamspe, Instituto de Assistência Médica do Servidor Público Estadual. O instituto é o sistema de saúde que atende cerca de 2 milhões de pessoas, entre servidores e dependentes.
"A idéia é que as associações de funcionários administrem esse sistema", diz Guedes.
Outra promessa do secretário é retomar o comando da secretaria. "Esta é a palavra de ordem dentro do partido. Nos últimos sete anos, a secretaria ficou sem diretrizes. Houve uso político e 'partidarização' dos vários órgãos da secretaria. Agora quem comandará a saúde no Estado será o secretário da Saúde com o aval do governador."
Guedes citou o exemplo da Furp, Fundação para o Remédio Popular, um laboratório ligado à Secretaria da Saúde cuja função é produzir remédio mais barato. "Na última gestão, o superintendente da Furp não foi indicado pelo secretário da Saúde. Ao invés de produzir medicamentos que interessavam às Santas Casas e aos municípios, ela passou a intermediar compras. Está trabalhando com menos de 30% de sua capacidade de produção."

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