São Paulo, quarta-feira, 11 de janeiro de 1995
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Para falar de Baneser

CESAR CALLEGARI

A intenção do Governo de São Paulo em demitir os 18 mil funcionários do Baneser e o sensacionalismo, muitas vezes distorcido, com que este fato vem sendo divulgado, tornam oportunas algumas reflexões.
Em primeiro lugar, a imensa maioria dos 18 mil contratados pelo Baneser é constituída por trabalhadores comuns, sem qualquer vinculação com atividades políticas. São homens e mulheres recrutados no mercado de trabalho, muitos dos quais deixaram suas ocupações na iniciativa privada para participar, com seu esforço, de projetos e serviços públicos da maior relevância. Portanto, é totalmente injusto que se propague a imagem de que esses profissionais não trabalham ou que são chupins do dinheiro público.
Em segundo lugar, nos últimos anos, marcados por acentuada crise econômica, o governo de São Paulo teve aumentadas as suas responsabilidades, sobretudo na área social. Apesar da diminuição das receitas, o governo teve de ampliar sua participação na oferta de serviços essenciais e, para isso, teve de contratar pessoal específico, muitas vezes em caráter emergencial.
Existem vários programas que só puderam ser implantados graças à existência de um mecanismo tipo Baneser. Programas internacionalmente reconhecidos na área da criança e do adolescente foram executados por técnicos contratados pelo Baneser. Projetos experimentais da Secretaria da Cultura, como as oficinas culturais e a Universidade Livre de Música, tiveram de se valer do Baneser.
É o caso também do Programa de Segurança Escolar que selecionou e contratou 5.000 homens para proteger estudantes, professores e o patrimônio de 2.440 escolas da região metropolitana. Sem o Baneser, a alternativa seria contratar qualquer empresa privada de segurança, que cobraria preços muito mais altos e ofereceria um pessoal menos qualificado para a função.
Se o Baneser for extinto e seus funcionários demitidos, uma parte muito significativa do serviço público prestado pelo Estado simplesmente vai parar. O governo seria forçado a admitir talvez os mesmos trabalhadores, através de empresas públicas, fundações ou empresas privadas.
As eleições já acabaram e a questão do Baneser não precisa mais ser explorada como um caso político. Se existem acusações de abusos, distorções ou improbidade na contratação de pessoal pelo Baneser, que sejam apuradas pelos canais competentes. O que não é possível é colocar sob ameaça os serviços públicos essenciais e condenar trabalhadores honestos a uma condição de parasitas, párias e aproveitadores.

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