São Paulo, quarta-feira, 11 de janeiro de 1995
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'Brasil com Z' discute imagem do país

RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

Produtor-executivo de programas educativos da TV BBC de Londres, Len Brown, 53, diz que, dos países em desenvolvimento, o Brasil é o mais divulgado em programas televisivos europeus.
O Brasil desperta em especial, segundo ele, o interesse de professores e alunos da rede do segundo grau britânica, que usam programas da BBC em debates e estudos de várias matérias.
Brown está no Rio para participar da mostra de filmes e debates "Brasil com Z", promovida até domingo no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), no centro, pela produtora Neon Rio.
Serão exibidas cerca de 50 produções estrangeiras sobre o país. Amanhã, às 20h30, Brown participa do debate "A Imagem do Brasil no Exterior". Em março, o Museu da Imagem e do Som de São Paulo exibirá a mostra.
A seguir, trechos da entrevista que ele concedeu à Folha:

Folha - Qual o interesse dos produtores europeus pelo Brasil?
Len Brown - Das nações em desenvolvimento, o Brasil é o mais popular. Nas escolas de segundo grau da Grã-Bretanha, é o mais estudado, com a exibição dos programas da BBC. Vocês vivem numa grande nação, com grandes recursos.
É como se tivessem uma mesa vazia, onde construir uma nação. O desenvolvimento de grandes projetos, como Tucuruí e Carajás, é uma das coisas que mais nos fascinam. Na Europa, tudo é muito restrito, fechado.
Folha - Qual é a imagem que se passa do Brasil?
Brown - Uma imagem dinâmica, eclética. Existem dois lados paradoxais. Num deles, há o Carnaval, bossa nova, futebol, música. E tem o lado mais obscuro: os problemas ligados à ecologia, em particular à Amazônia, a diferença entre ricos e pobres e o lado dramático das crianças de rua do Rio.
Folha - O lado negativo é o que mais atrai o europeu?
Brown - Acho que o peso dado é igual, equilibrado. É bom lembrar que algumas coisas que vocês consideram negativas têm um aspecto positivo para nós, como filmar numa favela. Muitas das histórias nas favelas, de pessoas sobrevivendo em meio às maiores dificuldades, são positivas.
Folha - O que é mostrado de positivo sobre as favelas?
Brown - Os jovens nas favelas fazem coisas que os jovens ingleses não podem mais fazer, como construir casas, ajudar a família, encontrando formas de arrumar dinheiro de um dia para o outro.
Para os nossos jovens, isto é fascinante. Eles são tentados a pensar que, se você vive numa favela, é porque é preguiçoso. O nosso trabalho numa favela do Brasil é muito importante para mudar essa imagem.
Folha - Mesmo os telejornais europeus falam bem do Brasil?
Brown - Não. Do Brasil ou não, os noticiários falam de coisas controversas, sem exceção. Não há uma maneira de alguém caçar uma boa notícia. A não ser que se mudasse completamente a filosofia global do que é notícia. Mas ninguém vai mudar isso.

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