São Paulo, quarta-feira, 11 de janeiro de 1995 |
 |
|
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
BBS de Sarajevo opera em meio à guerra
EMMA DALY
"Estou pedindo informações sobre meu grande amigo, o dr. Vedada Seremeta". O recado vem de Zoran Kajmakovic, San Francisco. Ele supõe que seu amigo esteja nos EUA, mas não tem certeza. "Eu conheço o dr. Seremeta! "exclama uma mulher no escritório. "Ele estava em Zagreb. A mulher dele me ligou há seis meses e disse que eles estavam tentando ir aos EUA ou à Suécia. Não tive mais notícias deles, mas temos uma amiga em comum –vou perguntar-lhe onde eles estão." É assim que o BBS de Sarajevo, uma estação na rede Zamir que interliga cidades na ex-Iugoslávia, vem mantendo a conexão entre familiares e amigos numa época em que as comunicações telefônicas internacionais são caríssimas e raramente funcionam, e o correio comum não existe. Muitas pessoas só conseguem manter contato com o mundo externo por cartas enviadas através da Cruz Vermelha. O BBS permite a 500 usuários das cidades bósnias que estão em mãos das forças do governo enviar correio eletrônico para o exterior através de uma linha telefônica local, por meio do escritório ZaMir-Sa, que repassa as mensagens a seus destinos finais. A rede foi criada para fomentar as comunicações entre Zagreb, Belgrado e outras cidades da ex-Iugoslávia. "ZaMir" significa "rumo à paz" em servo-croata. Ela é ligada a um sistema alemão e a partir dele com a Internet. "Meu primeiro contato em dois anos com meu irmão, que está na Suécia, foi feito através desta ligação", conta Haris Hadzialic, engenheiro de computação que passa seu tempo no escritório da ZaMir, tomando café e conversando sobre a Internet. Não tenho telefone em casa, por isso venho aqui enviar minhas mensagens. O escritório é dirigido por Mladen Rifelj e Meho Klico, que coordenam este "serviço postal" do século 21. "Quando chega uma mensagem para alguém com telefone em casa, avisamos. Mas não somos uma agência de correios", diz Rifelj. "O mais importante é possibilitar contatos entre pessoas comuns." "Trabalhei 21 anos nos Correios, no departamento de telecomunicações. Eu sei como a comunicação é importante para as pessoas", explica Klico. O escritório da ZaMir-Sa é ligado a um gerador operado pela entidade humanitária International Rescue Committee (Comitê de Salvamento Internacional), garantindo o fornecimento constante de energia elétrica. "Não temos capacidade técnica para mais usuários", diz Rifelj. "Além disso, eles não têm energia elétrica", acrescenta Klico. Embora os usuários sejam, em sua maioria, pessoas familiarizadas com o uso do computador, os administradores da ZaMir-Sa oferecem acesso a qualquer pessoa que venha ao escritório e digite uma mensagem no terminal central. Segundo Klico, a notícia se espalhou devido ao entusiasmo dos usuários: "Eles não param de falar na rede. Além disso, diz ele, "se uma pessoa em determinada rua tem um computador, todo mundo na rua vem usá-lo". A ZaMir-Sa também é usada para intercâmbios acadêmicos. Uma mensagem chega de uma mulher da Universidade Purdue, nos EUA, respondendo a um pedido de informações sobre estresse pós-traumático, que é um tema quente em Sarajevo. Outra mensagem, da Universidade St. Lawrence, dá detalhes sobre o tipo de ajuda que a cidade precisa por parte dos de professores universitários e como esse grupo pode trabalhar voluntariamente em Sarajevo ou fazer doações. Acima do terminal há uma fotocópia da "Espinha Dorsal da Internet", com as conexões das Américas à Europa, aos Bálcãs e a Sarajevo. As estradas que saem da cidade ainda estão bloqueadas. No entanto, já se pode entrar e sair de Sarajevo pela superinfovia. Tradução de Clara Allain Texto Anterior: Aluguel de micro custa a partir de R$ 7,50 Próximo Texto: "Robot" é divertido e esbanja didatismo Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |