São Paulo, quarta-feira, 11 de janeiro de 1995
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Nuvens esparsas

Comemoram-se os baixos índices de inflação de dezembro com apreensão pelas fortes quedas nas Bolsas de Valores e os desdobramentos ainda obscuros da crise iniciada com desvalorização da moeda mexicana. Mas, se não está imune às incertezas, tampouco é frágil a situação externa do Brasil.
Apesar do duro golpe assentado pelo México na credibilidade dos mercados latino-americanos, a consolidação da estabilização brasileira continua a depender da ação dos governantes daqui. Negociações efetivas para a tão protelada reforma fiscal aguardam ainda a posse do novo Congresso. E se está cada vez mais claro que a valorização do real frente ao dólar foi excessiva, persistem ainda as dúvidas sobre a condução da política cambial.
Ainda que o futuro econômico esteja na dependência da resolução dessas questões, no curto prazo, a economia segue apresentando sinais positivos. O IPC-Fipe caiu de 3,02% em novembro para 1,25% em dezembro; o IGP-M reduziu-se de 2,85% para 0,84%. Essa queda da inflação em dezembro e a perspectiva de taxas igualmente baixas no primeiro trimestre ocorre simultaneamente ao crescimento da produção industrial, estimado pela Fiesp entre 5% e 6% em 1994.
Não se pode menosprezar, entretanto, a necessidade de enfrentar com seriedade e rapidez os desafios que se colocam à frente. A reforma fiscal encontrará obstáculos políticos tanto pela legítima disputa entre diferentes setores sociais como pela ação de grupos fisiológicos e interesses corporativistas.
Ademais, o crescimento econômico continua a afetar timidamente o emprego. Empresas retomam e mesmo ultrapassam o nível de produção anterior à recessão do início dos anos 90, mas não recontratam a mesma quantidade de funcionários demitidos desde então.
Estima-se que em 1994 a economia brasileira tenha crescido cerca de 4,5%. Mas, apesar das contratações feitas desde a introdução do real, no total a oferta de trabalho na indústria paulista diminuiu, segundo a Fiesp, 0,74% no ano passado.
A queda da inflação é animadora. Mas nem ela está assegurada, nem os problemas do Brasil se resumem à contenção dos preços.

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