São Paulo, quinta-feira, 12 de janeiro de 1995
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Vigilância Sanitária vai recredenciar laboratórios

GILBERTO DIMENSTEIN; ALEXANDRE SECCO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Suspeitando da qualidade dos remédios produzidos no Brasil, a Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária vai fazer o recredenciamento de todos os laboratórios farmacêuticos do país. A decisão tem o apoio do ministro da Saúde, Adib Jatene.
A SNVS suspeita que muitos remédios estão sendo fabricados em condições precárias de higiene e com fórmulas alteradas. "Ninguém sabe a qualidade dos remédios produzidos no Brasil", disse à Folha Elisaldo Carlini, novo chefe da Vigilância Sanitária.
O trabalho começa nas próximas semanas. Os técnicos vão ficar quatro dias em cada laboratório para apurar as condições de higiene e de manipulação dos medicamentos. Aqueles que não seguirem os padrões internacionais vão ser fechados, disse Carlini.
O secretário acredita que "muitos" laboratórios não vão conseguir o recredenciamento depois de passar pela fiscalização. Essa informação lhe foi passada por empresários do setor.
Pelos padrões internacionais estabelecidos pela OMS (Organização Mundial de Saúde), os laboratórios devem seguir um rígido manual de procedimentos: qualidade da água, escoamento dos dejetos, circulação de ar, controle do maquinário de precisão e mistura dos produtos químicos.
O número de laboratórios e de medicamentos no país não é conhecido. Segundo um levantamento do governo, existem de 500 a 600 laboratórios que produzem 20 mil medicamentos –considerando as diferentes formas de apresentação, esse número chega a até 60 mil. O mercado movimenta US$ 4 bilhões ao ano.
Um medicamento só pode ser vendido se conseguir um registro e uma autorização da Vigilância Sanitária. O problema é que muitos medicamentos estão sendo produzidos há anos sem nenhum controle do governo. Há laboratórios que não foram fiscalizados pela Vigilância nos últimos 16 anos.
O vice-presidente do Sindusfarma (Sindicato da Indústria Farmacêutica), Lauro Moretto, reconhece os problemas. Para ele, "se alguém está burlando a fiscalização, o problema é da fiscalização" (leia texto abaixo).
O recredenciamento vai permitir ao governo estabelecer um número preciso de medicamentos e remédios existentes no Brasil.
A partir disso, a SNVS promete intensificar o controle sobre a qualidade dos medicamentos que passarem por essa primeira fiscalização. Para Carlini, pode chegar a 50% o índice de remédios inócuos vendidos livremente em farmácias.
Estudos feitos por universidades mostram que é grande o número de medicamentos com fórmula alterada. Nesse caso, além de não cumprir sua finalidade terapêutica, o medicamento pode agravar a saúde do paciente.
Uma das grandes preocupações de Carlini é com os inibidores de apetite e os antidiarréicos infantis.
Um estudo da Organização Mundial da Saúde mostra que os antidiarréicos infantis podem até matar se produzidos ou consumidos de forma errada.

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