São Paulo, quinta-feira, 12 de janeiro de 1995
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Entenda as diferenças entre os três países

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os analistas ouvidos pela Folha foram unânimes em apontar diferenças entre Argentina, México e Brasil.
O México implodiu junto com seu modelo de estabilização:
1) valorizar a moeda local em relação ao dólar;
2) isto permitiria um incentivo às importações;
3) expostos à competição, os preços internos tenderiam a se ajustar para baixo;
4) os déficits na balança comercial (importações maiores que exportações) e na conta de serviços (pagamento dos juros devidos) seriam financiados pela entrada de recursos do exterior.
5) não havia qualquer controle sobre a entrada de recursos nem sobre o tamanho do déficit.
Assim, se o investidor estrangeiro passar a considerar o déficit grande demais para ser financiado, o fluxo de entradas é interrompido. Sem recursos, o país quebra.
Hoje, o México vive, além da crise política, uma crise cambial (não é capaz de gerar os dólares necessários para cumprir com seus compromissos) e de solvência (empresas e bancos, endividados em dólar, não têm recursos para quitar suas dívidas). O tamanho do incêndio é de US$ 25 bilhões.
A crise argentina é outra. A Argentina não vive uma crise cambial como o México. Se, por qualquer razão, todos os argentinos decidirem trocar seus pesos por dólares, o país tem as reservas suficientes para fazer a operação.
Mas a Argentina enfrenta um problema de solvência no seu sistema bancário. Ou seja, na hipótese dessa troca ser feita, os bancos não teriam como financiar os empréstimos concedidos em pesos.
Além disso, o sistema de conversibilidade (um peso vale sempre um dólar) impede que o governo argentino injete recursos no sistema. Por lei, o Banco Central argentino só pode emitir um peso se entrar no país um dólar.
Para impedir uma eventual corrida, os juros pagos em aplicações em pesos explodem, sinalizando um horizonte recessivo.
Com um plano mais recente que os demais, o Brasil não enfrenta hoje nenhum dos dois problemas. Apesar da excessiva valorização do real, todas as assessorias econômicas continuam projetando, para 95, exportações maiores que importações.
Todas também consideram que a crise mexicana tem um desdobramento inevitável: o fluxo de investimentos para a América Latina será menor este ano.

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