São Paulo, sexta-feira, 13 de janeiro de 1995
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Maior ação militar cerca Complexo do Alemão

DA SUCURSAL DO RIO

No maior cerco já realizado desde o início da Operação Rio, cerca de 4.200 militares do Exército, Marinha e Aeronáutica ocuparam ontem todos os acessos às favelas do Complexo do Alemão (que compreende os bairros de Bonsucesso, Ramos, Olaria, Penha e Inhaúma). Pela primeira vez, as três forças atuaram juntas numa operação.
As informações sobre a operação foram obtidas através de um "pool" de empresas jornalísticas. O "pool" é formado por um grupo de jornalistas sorteados para uma cobertura que não comporta a presença de todos nela interessados.
A ocupação começou por volta das 4h da madrugada. Pouco antes da chegada dos soldados, houve troca de tiros entre as quadrilhas dos traficantes Uê e Nem Maluco (morto na semana passada).
Dois menores, de 14 e de 15 anos, teriam sido mortos durante o tiroteio. Os dois seriam da quadrilha do traficante conhecido como Semanal, ou Sexta-Feira 13, ligado ao grupo de Nem Maluco.
Segundo moradores, outros três corpos teriam sido encontrados na favela Nova Brasília. Os corpos teriam sido retirados do local antes da chegada dos militares.
Desde o início da Operação Rio, é a quarta vez que o Complexo do Alemão é ocupado.
O Complexo do Alemão é uma das maiores concentrações de população favelada no município do Rio, tem 48.582 habitantes distribuídos por dez favelas. A maior delas é a Nova Brasília, com 16.261 moradores, e a menor a do Relicário, com 304 habitantes.
Além dos militares, policiais do Batalhão de Operações Especiais, Batalhão de Choque e de outros 9 batalhões atuaram na operação.
Onze helicópteros das três Forças foram usados. Um deles transportou soldados até o alto do morro do Alemão. De lá, eles desceram revistando casas.
O trânsito na avenida Itararé, que margeia as entradas principais do Complexo, ficou fechado até as 8h. Comerciantes foram impedidos de abrir suas lojas até as 10h.
"No sábado os traficantes mandaram fechar por causa da morte do Nem Maluco. Hoje quem manda fechar é o Exército. É muito prejuízo", disse um comerciante que não quis se identificar.
Durante a operação foram apreendidas três motocicletas, armas, computadores e drogas.
Por volta das 13h, cinco homens e duas mulheres foram levadas presos para o Grêmio Sportivo Paranhos (em Ramos). No grupo estava um homem identificado pelos soldados como "Lobão". Ele seria um dos líderes do tráfico na favela do Alemão.
"Levanta a cabeça, Lobão. Você vai ver o que é bom agora. Nunca mais você mata ninguém. Levanta a cabeça para ser fotografado", dizia o militar, cuja identificação estava coberta.
Às 18h50, um jipe do Exército recomendava que os moradores ficassem em casa e os comerciantes fechassem seus estabelecimentos, impondo um toque de recolher.

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