São Paulo, sexta-feira, 13 de janeiro de 1995
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A guerra continua

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

No meio do verão, quando tudo parecia esquecido ou quase, quando tudo soava resolvido, dentro do possível, aparecem quatro corpos no Complexo do Alemão, quatro mil soldados invadem e ocupam o morro no dia seguinte e cai um helicóptero.
A sequência é de cinema. É para ver que a Operação Rio, aliás, título para filme, não vai tão bem quanto queria e dizia a Globo. É também para entender por que os militares desejavam tanto sair dos morros no dia 31 de dezembro, como foi previsto de início.
Foi "a maior operação" até agora no Rio, afirmaram em conjunto a Globo, a Manchete, a Bandeirantes. E foi uma ação também conjunta do Exército, da Marinha e da Aeronáutica –"pela primeira vez", como sublinhou o SBT.
Até o começo da tarde, no entanto, as coisas aparentavam estar correndo bem, naquele cotidiano de "helicópteros, tanques e carros blindados", segundo a descrição de sempre na Globo, acompanhada das devidas imagens.
Um ou outro dado surgia para confundir, como o texto da Manchete dizendo que "a troca de tiros durante a noite mostra que a guerra continua" entre os traficantes, mas a impressão era de normalidade.
O que venceu a normalidade, o cotidiano, foi a queda de um dos 11 helicópteros da ação, uma queda que só foi admitida no fim da tarde pelo porta-voz da Operação Rio.
"Helicóptero da Força Aérea Brasileira cai na operação no morro do Alemão, no subúrbio do Rio, e quatro militares ficam feridos", anunciou logo a CBN. "E atenção", entrou também o Aqui Agora, à sua moda, "um helicóptero caiu na super-operação no Complexo do Alemão".
Junto com o helicóptero, caiu também a aparência de normalidade. A quantidade de militares envolvidos na ação, mais de quatro mil, ganhou em importância. O fato de tratar-se de uma "ocupação", em vez do cerco que se viu da primeira vez, no morro, também ganhou maior relevo.
No SBT, lembraram então um episódio do último final de semana, pouco notado: líderes traficantes foram mortos por policiais militares e o comércio da região –em sinal de luto– fechou as portas.
Tudo como antes, como se o crime organizado continuasse mandando, como um estado paralelo.

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