São Paulo, sexta-feira, 13 de janeiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Amigos inimigos

SILVIO LANCELLOTTI

Feliz do jornalista que investiga os bastidores de uma entidade presidida por João Havelange e secretariada por Joseph Blatter. Não lhe faltam assuntos, mesmo num momento de lassidão do futebol no mundo, quando estão paradas as eliminatórias do Euro-96 e também as três grandes copas do Velho Continente.
De fato, a cada nova semana a dupla Havelange e Blatter inaugura uma surpresa. Os dois já foram aliados e adversários. Agora se toleram, numa convivência melíflua –fique amigo dos seus inimigos, observa um ditado mafioso. Na última terça-feira, o brasileiro e o suíço aguçaram mais fundamente a briga pelo poder na Fifa.
Depois de 12 anos no departamento de competições da entidade, caiu o simpático chileno Diego Galon. Depois de uma década no comando das relações públicas e da assessoria de imprensa da organização, desabou o helvético de origem italiana Guido Tognoni.
A derrubada de Tognoni se mostrou mais dramática porque meros dez dias antes ele fora promovido de gerente a diretor, com um gordo aumento de salários.
Nem Havelange e nem Blatter se dignaram sequer a uma conversa pessoal de despedidas com Tognoni. "Me demitiram por carta", ele se lamenta. Motivos? Num lance de ironia, Tognoni diz apenas: "Eu era eficiente, conversava francamente com vocês, os jornalistas". Tradução: partiriam dele os vazamentos das fofocas tão comuns ultimamente nos corredores da sede da Fifa em Zurique.
Violência à parte, paira sobre o fuzilamento de Tognoni um lampejo de genialidade de Havelange. O presidente entregou a Blatter as incumbências dos contatos futuros com a imprensa. No primeiro caso de informação plantada, algo que aborreça ou que incomode Havelange, todas as culpas desabarão no colo do seu secretário-geral. E Havelange poderá eliminá-lo da Fifa sob a alegação de justa causa.
Claro, Blatter é um homem espertíssimo e está absolutamente consciente da tocaia às suas costas. Durante um bom tempo pretende se resguardar. "De agora em diante, Herr Blatter apenas se comunicará através de notas oficiais", advertia, ontem, pelo telefone, uma sua assessora. A propósito, notas vistadas por Havelange. Por detrás do presidente, todavia, Blatter continuará a tramar contra a candidatura de Ricardo Teixeira à sucessão do sogro. Uma batalha, enfim, cada vez mais sanguinolenta.

Texto Anterior: Futebol brasileiro está na era da Fórmula 1
Próximo Texto: Barcelona recebe garantia do Flamengo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.