São Paulo, sexta-feira, 13 de janeiro de 1995
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Ano Novo na China deve ficar sem Deng

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

A China preparou ontem terreno para uma eventual ausência do seu líder Deng Xiaoping, 90, nas comemorações do ano novo chinês, que começam a 30 de janeiro.
Ele "está com boa saúde, mas não podemos prever se vai aparecer nas telas" (da TV), disse um porta-voz do governo.
Nesta semana, aumentaram os rumores sobre uma piora no estado de saúde de Deng.
O idealizador da revolução capitalista chinesa não aparece em público desde as comemorações do Ano Novo em fevereiro.
Há muita expectativa sobre uma eventual aparição de Deng na TV no próximo dia 30, a véspera do Ano Novo lunar chinês.
O "Diário da Libertação", de Xangai, publicou ontem em sua primeira página uma foto de Deng, sob o título: "O camarada Xiaoping está saudável". Ele aparece em sua casa em Pequim.
A iniciativa do diário xangaiense parece uma tentativa de responder aos rumores de que Deng estaria hospitalizado desde o começo de dezembro, conforme noticiou o jornal japonês "Yomiuri Shimbun". Segundo o "Sing Tao", publicação de Hong Kong, o líder chinês estaria recebendo transfusões de sangue.
Em sua última aparição, transmitida pela TV em fevereiro passado, Deng caminhava com dificuldade. Era amparado por duas de suas filhas. Suas mãos tremiam.
Correm rumores de que ele sofreria do mal de Parkinson (doença que ataca o sistema nervoso causando tremores, por exemplo).
Embora não seja dono de mais nenhum cargo oficial desde 1989, Deng continua a reinar na China. Baseia sua autoridade na tradição confucionista chinesa de se respeitar a "sabedoria dos mais velhos".
O líder chinês deslanchou a revolução capitalista em 1978 e arquitetou a estratégia para manter o Partido Comunista no poder. Comandou a repressão ao movimento pró-democracia em 1989.
Os rumores sobre seu estado de saúde fazem cair as bolsas de Xangai e Hong Kong por temor à instabilidade do período pós-Deng.
A sucessão já foi acertada e um protegido de Deng, Jiang Zemin, ocupa a Presidência da China, a secretaria-geral do PC e a chefia da Comissão Central Militar.
Mas Jiang não reúne o carisma do patriarca e pode sofrer desafios quando seu protetor morrer.
Uma eventual disputa palaciana desaceleraria as reformas, mas não desviaria a China da trilha do capitalismo. O país acumula as maiores taxas de crescimento econômico em todo o planeta nos últimos anos. Em 1994, ela atingiu 11,8%.
Uma ameaça do período pós-Deng representaria o enfraquecimento do governo central e a pulverização do poder pelo país.
Existe um fosso entre as regiões litorâneas, que se desenvolvem com rapidez, e o interior, marcado por bolsões de pobreza.

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