São Paulo, domingo, 15 de janeiro de 1995
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Paramilitares combatem FBI, ONU e Otan

DANIELA ROCHA
DE NOVA YORK

Ray Southwell fundou a Milícia de Michigan em abril do ano passado, juntamente com o reverendo batista Norman Olson.
Hoje Southwell estima que a Milícia de Michigan tem 12 mil membros. O sucesso da organização, segundo ele, se deve à conscientização das pessoas quanto aos seus direitos.
A milícia não considera o Exército norte-americano como "inimigo", mas é contra o FBI (Birô Federal de Investigação, a polícia federal norte-americana) e contra outros órgãos do governo.
Nesta entrevista, concedida por telefone à Folha, Southwell explica o que as milícias pretendem e por que a Milícia de Michigan é contra a existência de tropas das Nações Unidas.

Folha - Como começou a Milícia de Michigan?
Ray Southwell - Fundamos a milícia em abril de 1994 e já temos cerca de 12 mil membros. Iniciamos ao norte do Estado (de Michigan), no distrito de Emmet. E então muitas pessoas de outros distritos ligaram dizendo que queriam fazer parte do movimento.
Folha - Qual é o objetivo da Milícia?
Southwell - Defender a Constituição e os direitos humanos contra os inimigos internos –todas as organizações do governo– e os inimigos estrangeiros.
Folha - O Exército norte-americano é considerado inimigo?
Southwell - Eu não diria isso. São inimigos o que chamo de agências "alfabéticas", como FBI, ATF (Birô Federal de Álcool, Tabaco e Armas de Fogo) e o Departamento de Recursos Naturais (Department of Natural Resourses), chamado DNR.
Folha - Como é a atuação efetiva da milícia contra esses "inimigos"?
Southwell - Defendemos nossa casa e nossa propriedade. Treinamos e nos preparamos para lutar por nossa liberdade.
Folha - Por que a milícia é contra a lei de controle da venda de armas?
Southwell - A posse de armas é uma "cláusula de avós", o que significa que é uma tradição, para algumas famílias, que seu chefe tenha armas para protegê-las. A milícia tem as mesmas armas do Exército porque tem os mesmos direitos do Exército.
Folha - A milícia tem permissão do governo norte-americano para agir?
Southwell - Nós somos livres como cidadãos e lutamos por nossa liberdade. Existem agências que protestam conta as milícias, mas somos conscientes dos nossos direitos.
Folha - Qual seria a ação da milícia para garantir a sua liberdade?
Southwell - Não posso falar por toda a milícia. As pessoas da milícia são movidas pela sua consciência e agem de acordo com ela. Minha consciência me diz que a Constituição assegura a minha liberdade e eu tenho direito de lutar por ela.
Folha - A Milícia de Michigan pretende lutar pela independência do seu Estado?
Southwell - Nossa esperança é que as milícias de vários Estados deste país cresçam tanto que deixem para trás os funcionários federais de Washington. Há milícias que pensam em tornar seus Estados independentes, ou se separar da União. Michigan não é um desses casos.
Folha - A Milícia de Michigan é um grupo extremista?
Southwell - Não somos extremistas ou terroristas. Somos um grupo de defesa.
Folha - Existe um código de normas internas da milícia?
Southwell - Temos um manual muito simples, que explica nossos princípios.
Folha - Como é feita a comunicação entre as milícias?
Southwell - Trocamos informações por computador e por quadros de avisos, porque a mídia americana não fala a verdade. Temos nossa própria rede de informações e de agentes de notícia. Trocamos informações através de fax, quadros de avisos e fitas de vídeo, também.
Folha - Quem participa da milícia?
Southwell - Temos até crianças de 14 anos, que estão treinando na milícia porque seus pais já participam. Temos também idosos de 75. Uma senhora de 87 anos é a pessoa mais velha do grupo. Mas a média de idade é de 20 a 50 anos.
Folha - Qual a posição da Milícia de Michigan com relação às forças internacionais de paz das Nações Unidas?
Southwell - Acreditamos que as tropas da ONU deveriam ser banidas. Tememos que elas fiquem fora de controle e tomem o poder. Não acredito que neste momento possa acontecer algo nesse sentido, mas existe o temor. É também nossa posição quanto à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte, aliança militar liderada pelos EUA). Não somos contra a existência da ONU ou da Otan, mas agora esses organismos estão envolvidos com as leis da "Nova Ordem Mundial", com que não concordamos. Não queremos um governo mundial totalitário, fascista ou comunista.
Folha - A que o sr. atribui o sucesso das milícias?
Southwell - As pessoas estão percebendo que os governos estão tirando as liberdades dos indivíduos neste país. Temos que ensinar a elas que o governo não tem esse direito. Nossa liberdade foi dada por Deus e é garantida pela Constituição e por isso ninguém tem o direito de tirá-la.
Constatamos que estamos perdendo o controle sobre a ONU, sobre o governo federal, sobre nossa propriedade, sobre nosso sistema educacional...
Folha - A milícia cobra mensalidade de seus membros?
Southwell - Algumas estão começando a cobrar, porque é muito caro manter uma organização como esta. Eu gasto por volta de US$ 1.500 por mês só em conta telefônica, com ligações que faço a serviço da milícia. Recebo centenas de telefonemas de todo o país e do exterior também. Mas na Milícia de Michigan todo o trabalho é voluntário.
Folha - Estrangeiros são aceitos na milícia?
Southwell - Sim, desde que tenham os mesmos ideais nossos. Aceitamos qualquer um, não importa a cor ou a nacionalidade. Se alguém teme perder sua liberdade e quer defender sua casa, seria tolice não aceitar essa pessoa, não importa se é mulher, negro ou estrangeiro.(Daniela Rocha)

LEIA MAIS
Sobre exércitos privados nos EUA na pág. 3-3

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