São Paulo, domingo, 15 de janeiro de 1995
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FORZA BRASILE!

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES

Giovanni teve a sorte de, ao menos, manter-se trabalhando durante os primeiros anos. Conheceu brasileiros fixados na cidade –como o fotógrafo Ruy Teixeira, com quem trabalhou– e "ralou" até chegar a uma situação estável. Fez trabalhos alternativos, dividiu apartamento com amigos e semi-conhecidos, ficou duro e com saudades do Brasil.
Mas a recompensa veio em ótimo estilo. Convidados para cuidar de vitrines e folhetos das lojas Mandarina Duck –responsável por alguns já clássicos desenhos de bolsas, maletas e malas– Giovanni e Susanna ganharam súbita notoriedade. O trabalho foi um sucesso em Milão e rendeu repercussão na imprensa.
Foi o trampolim para o convite de Dolce & Gabanna –dupla que representa a última geração de estilistas milaneses, hoje com sua etiqueta costurada em roupa de muitos ricos e famosos, entre eles, Madonna.
"Eu já conhecia os dois, mas eles nem sabiam que eu trabalhava com design gráfico", conta Giovanni. "Quando viram o trabalho para a Mandarina Duck foi que relacionaram as coisas e fizeram o convite para o catálogo". Agora, ele é responsável por toda a gráfica de Dolce & Gabanna e prepara-se para fazer o livro que irá comemorar os 10 anos da grife.
Paralelamente à atividade na Itália, Giovanni foi recebendo propostas para trabalhos no Brasil. Um catálogo de uma exposição brasileira na última Bienal de Veneza abriu as portas da galeria Camargo Villaça, em São Paulo. O carioca convicto acabou curvando-se aos desvarios da Paulicéia e decidiu partir para uma fase profissional de idas e voltas entre Brasil e Itália. "No momento São Paulo tem mais possibilidades na minha área", diz. Mas faz questão de elogiar o Rio: "Sou o maior embaixador do Rio na Itália. Falo para todo mundo contra essa imagem de violência da cidade. E acredito de verdade que o Rio vai dar a volta por cima".
Amigo de brasileiros que voltaram da Europa para São Paulo, como a modelo Betty Prado, por exemplo, Giovanni acredita que se sentirá bem e poderá abrir um bom campo de trabalho na cidade. Pensa até mesmo em erguer uma ponte para artistas e estilistas brasileiros no mercado italiano. "Não gosto dessa história de curtir a imagem de quem fez alguma coisa fora e vem esnobar o Brasil. Eu sempre quis trabalhar aqui e sei que tem muita gente de excelente qualidade no Rio e em São Paulo", diz.
É a mesma opinião de Susanna, que se encantou com São Paulo. "É uma cidade que reflete com muito mais rapidez as coisas que estão acontecendo do que as da Europa". Ela acredita que muito do que viu por aqui teria chance de entrar no mercado europeu. "Os brasileiros trazem muita coisa para cá, mas nem sempre conseguem levar as coisas daqui para fora", diz.
Giovanni se entusiasma: "Nós temos no Brasil uma coisa muito rara, que é a fantasia, a imaginação. Falta dinheiro e, em consequência, esquemas mais profissionais. Mas o dia em que conseguirmos conciliar o profissionalismo com a criatividade, chegaremos ao máximo". É o que ele quer.

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