São Paulo, domingo, 15 de janeiro de 1995
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FORZA BRASILE!

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES

"Não gosto da imagem de quem fez alguma coisa fora e vem esnobar no Brasil. Sempre quis trabalhar aqui e sei que tem gente excelente no Rio e em São Paulo. Temos aqui no País uma coisa muita rara, que é a fantasia"
No final de 87, Giovanni Bianco Meliande aterrissou em Milão. Levava na bagagem um passaporte italiano, o resto do dinheiro de um prêmio recebido no Brasil, o telefone de uma amiga que trabalhava no consulado e um catálogo com endereços dos principais estúdios de artes gráficas da cidade. "Fui para um hotel, peguei a lista e comecei a ligar. O primeiro que aceitou ver meu trabalho me contratou."
Sete anos depois, Giovanni é um dos mais "hypados" designers da cidade dos Visconti: de seu estúdio, em sociedade com a designer gráfica Susanna Cucco, saíram o catálogo da dupla de estilistas Dolce & Gabanna, a decoração das vitrines das lojas Mandarina Duck, a programação visual da Coca-Cola diet e trabalhos para uma lista de clientes de primeira grandeza, como Moschino, Rizzoli e Alessi.
Giovanni passou recentemente uma temporada na MTV norte-americana, de onde concebeu os logotipos e vinhetas para as sucursais asiáticas da emissora. Agora, ele e Susanna preparam-se para montar em São Paulo uma sucursal do estúdio milanês. Já fizeram por aqui catálogos para artistas da galeria Camargo Villaça e Giovanni será o responsável pelo projeto visual –cartazes, convite etc.– da peça "Don Juan", de Otavio Frias Filho, com direção de Gerald Thomas, que estréia em fevereiro.
"Eu sempre quis voltar e trabalhar no Brasil, era o meu sonho", diz Giovanni. Para realizá-lo, passou por um périplo já conhecido por muitos brasileiros que, nos últimos anos, trocaram as incertezas do país pelas de países estrangeiros mais desenvolvidos.
Filho de "ítalo-cariocas", Giovanni iniciou sua viagem aos 22 anos. Recém-formado em pintura, na Escola de Artes Visuais do Parque Laje, no Rio, havia montado um estúdio com a amiga Ana Luiza Couto. Começavam a carreira, quando ganharam um prêmio –e Ana Luiza uma bolsa, para estudar em Nova York. Decidiram dar um giro na rota. Ela foi para os EUA e ele, a convite do designer Andrea Rauch, partiu para a Itália.
Foi inicialmente para Roma. Mas perdeu o contato com o suposto anfitrião. Decidiu, antão, voar para Milão, cidade que, na época, explodia no mundo da moda, do desenho de móveis e objetos, da publicidade e das artes gráficas.
Depois do primeiro estágio e de uma fase em meio período no setor cultural do consulado brasileiro, teve sua primeira grande experiência profissional: foi trabalhar no estúdio Gio Rossi, um dos mais importantes da Europa na área de embalagens. Lá ficou dois anos e meio. "Aprendi muito e tive a chance de partir para um trabalho próprio".
A chance surgiu quando Giovanni conheceu Susanna Cucco, uma ítalo-britânica, que chegara de Londres em busca de trabalho. Ele foi escalado para entrevistá-la e ver seu book. "Adorei o que ela fazia". Pouco tempo depois, com um amigo comum, criavam um estúdio. O amigo acabou indo para Nova York e a dupla resolveu manter o projeto sozinha.
Não é exatamente uma tarefa fácil estabelecer-se no ramo das artes gráficas em Milão. Menos ainda tratando-se de meio-estrangeiros.

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