São Paulo, domingo, 15 de janeiro de 1995
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MADONNA ALÉM DA LIBIDO

–E hoje em dia, seu pai a aceita como você é?
–Ele nega, repudia meu sucesso. Não acredito que ele saiba tudo o que faço. Prefere ignorar. Quando ele acha uma música bonita, me elogia. De outra forma, se cala. Entende? É mais fácil para ele acreditar que eu sou caprichosa, uma menininha estúpida. Alguém que não tem nada a ver com ele.
–E quem você é exatamente? Cantora? Dançarina? Atriz?
–Sou uma artista de cabaré. É assim que me vejo.
–Mas você chegou ao limite da pornografia. Isso a assustou? É por isso que você se moderou em seu último disco?
–Não é uma questão de moderação. No meu novo disco há muitas idéias provocativas, mas de outra ordem. O sexo não é a única provocação. Também estamos reprimidos em outras questões, como as emoções. Para muitos, falar de suas emoções é tabu. Não me moderei, me aprofundei. Fui além da libido.
–Você atribue isso à reação a "Sex"?
–Sim. Porque todos tentaram me destruir. E a única forma de me salvar e de sobreviver foi analisar com calma tudo isso.
–Você busca algo em sua vida?
–E quem não busca? Acho que tento encontrar o sentido da vida. Uma verdade. Tem que existir uma. Qual o sentido da vida? Para quê estamos aqui?
–Para aceitarmos pouco a pouco a idéia da morte.
–Eu não acho. Penso que vivemos para tentar tirar da vida o máximo que podemos.
–Mas no fim você não vai tirar mais que os outros, vai?
–Bem, existe a morte física. Mas existe a morte do espírito? Eu acho que não.
–Você acredita em vida depois da morte?
–Sim.
–Em que sentido? Uma vida eterna no sentido cristão?
–Não, claro que não. Não no sentido cristão nem no sentido católico. Uma existência no sentido oriental.
–E esta crença a ajuda a viver?
–Naturalmente. Você deve acreditar em algo para sobreviver, não?
–Talvez. É uma forma de ambição. Você é ambiciosa?
–A ambição é a fome, o desejo. Ambição só tem uma conotação negativa para os carentes de desejos, os que dizem: "Oh, que ambiciosa ela é! Quer ter poder! Busca a fama!"
–Você odeia a intolerância?
–Sim. O fundamentalismo, o fanatismo. O catolicismo, que é uma representação gigantesca da repressão.
–Você se preocupa com a violência em seu país?
–Muito. Para a maioria da população dos Estados Unidos não existe um sentimento de orgulho nem de dignidade. Ninguém acredita no futuro, não há ideais, vive-se numa frustração completa. A única forma de se sentir poderoso é ter uma arma, saber que se pode matar alguém. É facílimo conseguir uma arma. Todas as pessoas que eu conheço têm uma, todos os homens que eu conheço levam uma debaixo do banco do carro. E você tem que ter uma também, porque todos têm.
–Você teme por sua vida?
–Às vezes. Mas eu sempre me arrisquei. Não fico assustada hoje em dia mais do que ficava quando criança. O perigo me atrai. Sempre me atrairam as pessoas que não têm nada a perder. Nesse sentido, não conheço o medo.
–Você pensa em ser mãe?
–Sim.
–Por quê?
–Porque acredito que há mais bem que mal na vida. Porque também acredito que sou boa. Tentaria educar bem meus filhos. E me esforçaria por ser um exemplo para eles.

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