São Paulo, segunda-feira, 16 de janeiro de 1995
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Teens são alvo da propaganda de cigarro

PAULO HENRIQUE BRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma portaria do Ministério da Saúde, publicada em 29 de dezembro e suspensa na última terça-feira, trouxe o tabagismo de volta ao debate.
A portaria restringe a publicidade de tabaco e seus derivados, cujo principal alvo são adolescentes e até crianças, segundo psicólogos e psiquiatras.
"Quase 90% das pessoas que se viciam em cigarro começam a fumar entre 12 e 16 anos, " diz o psiquiatra Montezuma Pimenta Ferreira, responsável pelo ambulatório de tabagismo do Hospital das Clínicas.
Valdir Siqueira, 47, presidente da Federação Nacional de Agências de Propaganda afirma que a propaganda não é a principal responsável pelo hábito de fumar. "Um pai que fuma influencia muito mais o filho", diz.
Uma comissão formada pelos ministérios da Saúde, Comunicações e Justiça vai estudar a legalidade da portaria.
O ministro da Saúde, Adib Jatene, acredita que a restrição à publicidade deveria ser feita através de uma lei estudada e aprovada pelo Congresso.
Enquanto isso, muitos adolescentes continuam fumando. A Organização Mundial da Saúde existam 10 milhões de adolescentes fumem em todo o país.
Rafael Caccuri, 15, é um bom exemplo. Ele começou a fumar com 13 anos. Hoje, consome um maço e meio de cigarros por dia. O garoto não pensa em parar. "Eu sei que cigarro faz mal, mas é muito bom", diz.
Os comerciantes que diariamente vendem um maço de cigarros para Rafael estão desrespeitando a lei. Uma outra portaria, de 1990, proíbe a venda de cigarros a menores de 18 anos.
"Não sei de nenhum comerciante que tenha sido multado", diz Vera Luiza da Costa e Silva, 42, coordenadora do Programa de Controle ao Tabagismo do Ministério da Saúde.
Ela defende as medidas propostas pela portaria, que determina o aumento e a modificação periódica da mensagem de advertência contida nas embalagens e anúncios de cigarro.
Também impede que entrevistados em programas jornalísticos ou personagens de programas ao vivo e de novelas fumem, mesmo que não se trate de merchandising (quando alguém mostra a marca de um produto no meio de um filme, por exemplo).
"Está provado que quanto maiores são as restrições à publicidade, menor o número de pessoas que começam a fumar", diz o médico Ronaldo Laranjeira, professor de psiquiatria da Escola Paulista de Medicina.

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