São Paulo, terça-feira, 17 de janeiro de 1995
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Selo traz repertório raro de Jean Sibelius

IRINEU FRANCO PERPETUO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Chega ao Brasil via importação a parte menos conhecida da música do finlandês Jean Sibelius. São quatro discos do selo sueco Bis, contendo poemas sinfônicos e peças para violino e orquestra.
A Bis é especializada em música escandinava. Possui em seu catálogo as obras completas de Sibelius (1865-1957) e do dinamarquês Carl Nielsen (1865-1931). Outro ponto forte do selo é a música contemporânea, com destaque para o russo Alfred Schnittke e o estoniano Aavo Pãrt.
"Valsa Triste", "Karelia", "Sinfonia nº 5" e "Concerto para Violino" resumem tanto as prateleiras das lojas quanto os desejos dos compradores em relação a Sibelius. Os discos da Bis que estão sendo importados saem deste cardápio restrito e óbvio.
O destaque é a primeira gravação mundial da íntegra da música incidental que o compositor fez para a peça "A Tempestade", de Shakespeare.
Mais conhecida sob a forma de duas suítes orquestrais, "A Tempestade" aparece aqui por inteiro, com solistas e coro. A orquestra é a Sinfônica de Lahti, regida por Osmo Vãnskã.
Pela presença de cantores interpretando os personagens, esta versão de "A Tempestade" curiosamente se aproxima, no aspecto formal, das semi-óperas do compositor inglês Henry Purcell (1659-1695), como "The Fairy Queen", baseada também em Shakespeare.
O estranhamento de se ouvir o texto do dramaturgo inglês cantado em finlandês desvanece perante a beleza da obra, uma das poucas peças de relevância que Sibelius compôs após a Primeira Guerra Mundial. A riqueza de nuances da peça também serve para desmentir a fama de compositor excessivamente sombrio que o senso comum atribui ao finlandês.
Tema que influenciou Sibelius durante toda sua carreira foi o "Kalevala", poema épico finlandês publicado em 1835, que colige mitos de sua nação. A principal obra de Sibelius baseada no "Kalevala" foi a suíte "Lemminkãinen", grupo de quatro poemas sinfônicos que inclui o célebre "Cisne de Tuonela".
Obra anterior a suas sinfonias, "Lemminkãinen" ainda mostra forte influência da música russa (a Finlândia só se libertou do Império Russo em 1917).
Sibelius, entretanto, logo se libertaria desta influência. Isto pode ser notado em outro disco da Bis, o que traz as suítes "Cisne Branco" (música para a peça de Strindberg) e "Festa de Belshazzar". As peças trazem ecos do assim chamado "novo classicismo" da "Sinfonia nº 3".
Em ambos os discos, a regência é do conceituadíssimo maestro estoniano Neeme Jãrvi, à frente da Orquestra Sinfônica de Gotemburgo. Jãrvi também é o regente no CD que traz peças para violino e orquestra.
A gravação traz peças posteriores ao "Concerto para Violino" (1903), como as "Seis Humoresques", "Duas Serenatas" e "Duas Peças (Melodias Sérias)".
Sibelius ambicionava ser um grande virtuose do violino, e virtuosismo é o que não falta nestas obras. Tocando um Guidantus de 1718, o violinista Dong-Suk Kang se desincumbe adequadamente das dificuldades técnicas.

Discos: The Tempest; The Lemminkãinen Suite; Swanwhite Suite/Belshazzar's Feast Suite; Humoresques/Serenades/Two Pieces
Intérpretes: Lahti Symphony Orchestra/Osmo Vãnskã, Gothenburg Symphony Orchestra/Neeme Jãrvi, Dong-Suk Kang (violino)
Lançamento: Bis (importado)
Quanto: R$ 28,00 (o CD, em média)

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