São Paulo, quarta-feira, 18 de janeiro de 1995 |
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Forças Armadas planejam saída da Operação Rio por temer desgaste
RUI NOGUEIRA; MÁRCIA MARQUES
A linha mestra desse planejamento, disseram à Folha dois generais e dois coronéis que pediram anonimato, é "desembarcar sem tirar o pé do estribo". O "estribo" é a manutenção da atividade de inteligência do Exército. O momento certo de os militares abandonarem a operação leva em conta desde as provocações dos chefes do tráfico até o "boom" da hotelaria carioca, que o governo Marcello Alencar gostaria de assegurar até o Carnaval. Para o governo do Rio, o bom momento econômico, iniciado com as festas de final de ano, ajudaria a reforçar uma imagem positiva da cidade se a "paz armada" pudesse ser prolongada até pelo menos o Carnaval. Isso implicaria em mais uma renovação formal (até o final de fevereiro) do convênio do governo federal com o Estado do Rio. A discussão gira em torno desse prazo: antes ou depois do Carnaval. O Exército considera perigoso o prolongamento da missão, mas criou para si uma meta: não sair dos morros enquanto os traficantes tiverem poder para fechar determinadas áreas. Chamam esse poder de "câncer a extirpar". Outra meta não revelada publicamente, mas explícita em conversas reservadas: manter a pressão sobre o Complexo do Alemão até que haja um desfecho (não dizem qual) para o traficante Ernaldo Pinto de Medeiros, o "Uê". Na visão dos militares, quanto mais se prolongar a operação, maior a tendência ao desgaste da imagem das Forças Armadas. Motivo: feita a "limpeza" inicial nos morros, as operações precisam ser mais ostensivas, empregar cada vez mais homens e equipamento mais pesado. Os chefes das operações relatam aos comandantes que os soldados trabalham no limite da "contenção psicológica", uma vez que foram preparados para a guerra e não para serem "cavalheiros". Além dos excessos dos soldados, as Forças Armadas acham constrangedora a perda ou danificação de equipamentos –como o helicóptero Super Puma da Aeronáutica no Complexo do Alemão– que não foram produzidos para missões em morros. O novo chefe do Estado-Maior do Exército, o general Délio Monteiro, 64, admitiu claramente ao assumir o cargo que "o envolvimento prolongado trás alguns inconvenientes e prejuízos à atividade natural do Exército". Se a operação for mesmo prorrogada, a solução deve passar por outra renovação do convênio, mas com uma proposta intermediária. A ação mais intensa caberia às polícias Civil e Militar, reforçadas pelos mil homens que o Exército repassaria à PM –os salários seriam pagos pelo governo federal. As Forças Armadas manteriam e até reforçariam os serviços de inteligência para não serem surpreendidas e ficariam em prontidão. Texto Anterior: Comando Militar investiga tortura Próximo Texto: Geisel defende atuação limitada Índice |
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