São Paulo, quarta-feira, 18 de janeiro de 1995
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Minissérie usará efeitos de 'Forrest Gump'

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

A minissérie "Decadência", que a Globo planeja exibir dentro de seis meses, deverá usar efeitos especiais muito parecidos com os do filme "Forrest Gump - O Contador de Histórias".
A emissora pretende interferir sobre imagens jornalísticas de arquivo, acrescentando atores em cenas onde originalmente só havia personalidades políticas ou rostos anônimos.
Escrita por Dias Gomes, a minissérie de 16 capítulos contará a saga da fictícia família Tavares Branco, que tem como patriarca o jurista Albano.
O clã simboliza, nas palavras do autor, a "elite brasileira". Durante a trama, vai experimentar uma sucessão de desgraças: bancarrota financeira, doenças, escândalos sexuais.
"À decadência dos Tavares Branco corresponderá a decadência de toda uma nação", explica Dias Gomes.
Fatos que chacoalharam o país nos últimos 25 anos servirão como pano de fundo para a minissérie.
A história começa em junho de 1970, quando a seleção de Pelé e Gérson conquista a Copa do México. Rapidamente, salta para o dia 21 de abril de 1985 e flagra o então porta-voz Antônio Britto anunciando a morte do presidente Tancredo Neves.
Daí em diante, os personagens de "Decadência" participam de acontecimentos tão importantes quanto a campanha das Diretas e o impeachment de Fernando Collor.
No que depender do roteiro que Dias Gomes entregou à Globo, o verbo "participar" não é mera força de expressão.
O texto prevê "takes" em que personagens da minissérie contracenam literalmente com parlamentares, presidentes da República e sindicalistas.
Dois exemplos: o lobista Pedro Jorge Tavares Branco desce a rampa do Planalto ao lado de Fernando Collor; a jovem Carla, protagonista feminina, grita palavras de ordem durante uma manifestação de caras-pintadas.
Para concretizar tais cenas, a Globo vai empregar os mesmos recursos de computação que a empresa Industrial Light & Magic utilizou em "Forrest Gump", filme do diretor Robert Zemeckis.
No longa-metragem de 1994, o personagem interpretado por Tom Hanks convive com figuras famosas da recente história americana.
Vai à Casa Branca e cumprimenta, por exemplo, o presidente John Kennedy, que morreu quando o ator tinha apenas 7 anos.
"Em termos técnicos, não é difícil produzir efeitos semelhantes", diz o diretor-artístico Carlos Manga, responsável pelas minisséries da Globo. "O problema maior é conseguir autorização para transmitir as imagens jornalísticas num contexto fictício."
Manga afirma que a emissora entrará em contato com todas as personalidades presentes nas cenas reais que a minissérie quer resgatar. "Só vamos exibi-las se não houver objeção de ninguém. Caso contrário, poderemos responder processos por uso indevido da imagem alheia."
Dias Gomes faz questão de ressaltar que escreveu "Decadência" um ano antes de "Forrest Gump" chegar às telas. "Não me inspirei no filme", garante.
As gravações da minissérie devem começar em março, com Edson Celulari à frente do elenco.

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