São Paulo, quarta-feira, 18 de janeiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Buscetta quer voltar

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO – Seu tinha qualquer dúvida a respeito da Idade de Ouro que o Brasil atingiu, através do tucanato neoliberal instalado, precisaria dar mostras de burrice excepcional em recusar as evidências todas, que aí estão, esfregadas em nossa cara.
O presidente deseja enterrar a Era Vargas, na opinião dele, a culpada de tudo. Um ministro descobre que os encargos trabalhistas dificultam a abertura de novos empregos e a manutenção dos atuais. Nos Estados Unidos, na Europa ocidental, os trabalhadores têm, na maioria dos casos, maiores e melhores direitos sem que isso leve o Estado à falência.
O governo dos tucanos descobre que, sem férias remuneradas, sem previdência, sem indenizações, sem estabilidade, sem carteira assinada, sem aviso prévio, voltando-se ao regime de semi-escravidão anterior à era Vargas, haverá mais empregos. Os empresários ficariam aliviados da carga trabalhista e teríamos o melhor dos mundos –para eles. Afinal, o Muro de Berlim não caiu?
A mídia, que está enaltecendo a situação com palavras e fotos edulcoradas (perdoem a palavra, acabei de lê-la num editorial e me apresso a repeti-la), está fazendo estragos lá fora.
O mafioso Tommaso Buscetta, depois de entregar seus companheiros de tráfico, declarou que deseja viver no Brasil, onde pretende passar o resto de seus gloriosos dias em paz, só perturbada quando, a exemplo do que acontece com Ronald Biggs, ele for chamado para dar dicas sobre o melhor desodorante, o melhor livro, o melhor show, o melhor restaurante e o lugar mais bonito do Rio.
Buscetta sabe o que está querendo e pelo menos o governo de FHC também sabe. Deve consagrá-lo como um dos entusiastas da nova ordem instalada pelos neoliberais. Para mim, a volta dele é mais ou menos indiferente. Um Buscetta a mais ou a menos não chega a prejudicar o equilíbrio moral, social e econômico da nação. Não estou muito a par de suas aventuras mais recentes. Contudo, acho que a cara dele (pior do que o nome) polui um pouco a paisagem. Mas que o Brasil o merece, merece.

Texto Anterior: O aumento
Próximo Texto: Uma fórmula aos aposentados
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.