São Paulo, quarta-feira, 18 de janeiro de 1995
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Erraram

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – Nada como mexer nos arquivos, de vez em quando, para desmontar ícones, um dos meus esportes favoritos, diga-se.
Puxo os indicadores econômicos habitualmente publicados nas três páginas finais da badaladíssima revista "The Economist".
Sob o título "projeções de taxas de câmbio", com data de 29 de outubro passado, a revista diz o que aconteceria com o câmbio de 22 países selecionados. A fonte é outro ícone da mídia, a EIU (Economist Intelligence Unit, uma espécie de CIA da revista, que vive fuçando o mundo todo em busca de tendências, antecipações, informações privilegiadas).
Vamos, então, à projeção sobre o futuro do peso mexicano, então cotado à razão de US$ 1 = 3,42 pesos. A revista previa, para dentro de três meses (ou seja, janeiro de 95), uma cotação similar (entre 3,40 e 3,59).
Hoje, o dólar vale 5,45 pesos ou 54% mais do que a máxima cotação prevista para esta época pela revista britânica. Não é à toa, portanto, que os bancos norte-americanos tenham perdido uma pilha de dinheiro com a brincadeira mexicana.
Há, no episódio, várias lições a extrair. A mais importante das quais é a seguinte: desconfie, sempre, meu caro leitor, das afirmações definitivas e peremptórias, do tipo "o Brasil não é o México" ou "na Argentina não pode acontecer o que aconteceu no México" ou "a solidez da economia brasileira é muito maior do que a do México" e assim por diante.
Se "The Economist", que ganha dinheiro com a credibilidade que adquiriu ao longo dos anos, faz projeções tão equivocadas, imagine de que equívocos não são capazes os que, em vez de dinheiro, ganham apenas a manutenção do emprego com previsões tranquilizadoras como as acima listadas.
PS – E, para não retificar só os outros, vale esclarecer que a pergunta "quantas divisões tem o papa?", citada neste espaço como sendo de Napoleão, é, na verdade, de Stalin, na Conferência de Teerã (1943), conforme aponta, corretamente, o leitor Luiz Bello (Teresina, PI).

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