São Paulo, quinta-feira, 19 de janeiro de 1995
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'Hannah' é ponto alto de Allen

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Não é sempre que Woody Allen acerta a mão como em "Hannah e Suas Irmãs" (Globo, 0h). A mistura perfeita entre drama e comédia que ele atinge ali é privilégio de uns poucos grandes artistas, como Tchekov –cuja peça "Três Irmãs" é uma referência obrigatória deste "Hannah", menos pelo enredo que pela atmosfera.
Hannah (Mia Farrow) é a ex-mulher de Mickey (Allen) e a atual de Elliot (Michael Caine). Este se apaixona pela cunhada mais nova, Lee (Barbara Hershey), que por sua vez é casada com um pintor mais velho, Frederick (Max Von Sydow).
Mickey vagueia pela família com suas neuroses e sua hipocondria e acaba se aproximando da igualmente neurótica irmã mais velha de Hannah (Dianne Wiest).
Deste emaranhado de desejos e sentimentos, Allen traça uma fina tapeçaria, em que não há um único ponto sem nó.
O filme tem alguns dos maiores momentos do cineasta, como as sucessivas tentativas de seu personagem de encontrar uma religião que o livre do medo de morrer, ou a sequência em que ele sai com Wiest e tudo dá errado: ela gosta de rock, ele de jazz; ele de uísque, ela de cocaína.
Outra passagem brilhante é a correria de Michael Caine pela cidade para dar de encontro com Barbara Hershey e fazer de conta que foi por acaso.
O elenco, de primeira, está magnificamente afinado. Só a dublagem deve atrapalhá-lo. A curiosidade é que Maureen O'Sullivan (a ex-Jane do Tarzan), que faz o papel da matriarca da família, é mãe de Mia Farrow de fato.
Atenção para a verdadeira epifania do final, o mais belo, ambíguo e intenso que Allen já filmou.

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