São Paulo, quinta-feira, 19 de janeiro de 1995
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Brasileira perde marido e os dois filhos

LUIZ MALAVOLTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BAURU

O sonho da família Stafussi, de Bauru (cidade localizada a 345 km a noroeste de São Paulo), de uma vida sem problemas econômicos desmoronou com o terremoto no Japão.
O terremoto na cidade de Kobe, que atingiu 7,2 na escala Richter, matou Adilson José Stafussi, 33, e os filhos Thiago, 7, e Tamires, 4.
Os três dormiam no apartamento da família, quando aconteceu o tremor, às 5h46 da madrugada de terça-feira (horário no Japão). A polícia de Kobe diz que morreram outros três brasileiros, ainda não identificados.
Havia rumores sobre mortes de outros brasileiros em Osaka. Estas não foram confirmadas pelo consulado do Brasil em Nagoya, às 20h de ontem (7h da manhã de hoje no Japão).
Segundo Raul Stafussi Jr., 30, irmão de Adilson, o edifício desabou sobre os três. Tamires ainda foi achada com vida, mas morreu no hospital.
A única sobrevivente foi a mulher de Adilson, a brasileira Taeko Fuzioka Stafussi, 30, que retornava do trabalho no momento em que ocorreu o abalo.
Segundo Stafussi Jr., Taeko estava a uma quadra do apartamento quando aconteceu o terremoto.
"Ela viu tudo ruir à sua volta", disse. A família Stafussi só teve a confirmação da morte de seus parentes no final da noite de anteontem, através de um telefonema.
Stafussi Jr. disse que uma funcionária do consulado japonês em São Paulo telefonou para sua casa por volta das 23h.
Taeko, segundo ele, estaria hospitalizada em Kobe, porque entrou em "estado de choque" ao saber da morte do marido e dos filhos.
Ontem, a família passou o dia, sem êxito, tentando obter informações junto ao consulado japonês sobre o traslado dos três corpos para o Brasil.
A mãe de Adilson, Terezinha Stafussi, disse que o neto Thiago morreu no dia que estaria comemorando o seu 7º aniversário.
No último sábado, Adilson telefonou do Japão para a mãe, em Bauru, e os dois conversaram por cinco minutos.
"Ele me disse que estava bem. Afirmou que estavam ocorrendo tremores de terra lá em Kobe, há dias, mas que era para eu não ficar preocupada."
Adilson, Taeko e os dois filhos viviam no país desde junho de 1992. Eles foram para o Japão como "dekasseguis" (trabalhadores que deixam o país de origem em busca de oportunidades).
Ele deixou o emprego de chefe de seção nos Correios, em Campinas, para ser cozinheiro em restaurantes japoneses.
A mulher ajudava no orçamento doméstico trabalhando em casas noturnas de Kobe.
Stafussi Jr. afirmou que o casal estava conseguindo poupar US$ 3.000 por mês e que pretendia investir no Brasil quando retornasse.
"Eles tinham planos de retornar ao Brasil dentro de dois anos e achavam Kobe uma boa cidade para viver", afirmou Terezinha.

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