São Paulo, quinta-feira, 19 de janeiro de 1995
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Parlamentar deve ganhar bem

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – É facílimo agradar a opinião pública atacando aumento salarial de parlamentares –uma categoria desprezada, imaginada como berço de pequenas, médias e grandes picaretagens. Cuidado, porém, com a exploração demagógica. Parlamentares exercem funções complexas, vitais à democracia. Merecem, portanto, ganhar bem.
Uma gigantesca fatia dos cidadãos gostaria que eles ganhassem salários miseráveis. Há quem, no fundo, apreciaria até fechamento do Congresso.
Infelizmente, tenho de repetir o óbvio: por existirem maus políticos não significa que a política seja má. Existem jornalistas com vínculos duvidosos. Nem por isso a imprensa deve ser comprometida. Há maus médicos: ninguém pede o fim da medicina.
O Congresso tem o particular dom de provocar irritação apenas por um motivo: é mais fiscalizado. Mas fornece matéria-prima para indignação. Veja-se, agora, o reajuste salarial. Em vez de assumirem um salário transparente, criaram uma série de espertos penduricalhos: um parlamentar pode, agora, ganhar até 19 salários por ano.
Eles têm mais de dois meses de recesso por ano. Por que eles têm direito a quase três meses de descanso remunerado se nem o país nem o governo paralisam? Aliás, a crítica vale também para Poder Judiciário.
Nem vou, aqui, entrar na discussão da estrutura arcaica e do desperdício do Congresso, que necessitariam vários quilômetros de coluna para comentários. O parlamentar chega na terça-feira a Brasília e, em geral, vai embora na sexta-feira. Sem contar os gazeteiros que, apesar de receberem, ficam semanas sem trabalhar e até meses sem trabalhar, o que significa gatunagem.
Por causa de um grupo de homens públicos desprezíveis, toda a imagem de uma categoria vital à democracia fica comprometida.
PS – A propósito, o governo anuncia que, na busca do equilíbrio do Orçamento, vai cortar emendas que classifica de "paroquiais" dos parlamentares –construção de um matadouro ou fonte luminosa, por exemplo. O governo está certo. O problema é saber se os cortes vão obedecer a um critério justo ou se, eventualmente, amigos e financiadoras de campanhas serão poupados por questões, digamos, paroquiais. A verificar.

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