São Paulo, quinta-feira, 19 de janeiro de 1995
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Quanta vergonha

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – Congressista bom merece ganhar um saco de dinheiro. Qualquer salário seria pequeno para remunerá-lo pelo fato óbvio de que se trata de figura essencial e de valor inestimável para a democracia, que, por sua vez, custa mesmo caro. Mas vale o preço.
O diabo, no Brasil, é que congressistas bons são tão poucos que acabam engolidos pela maioria. Uma maioria que demonstra tamanha falta de vergonha que perpetra escândalo atrás de escândalo. Já não bastasse o chamado escândalo do Orçamento, temos só esta semana os seguintes:
1 - Além de auto-aumentar seus salários, o que era justo, os congressistas penduraram no aumento mais três salários anuais extras, com o que se tornarão a única categoria profissional no planeta a gozar de 15 salários anuais. Só mesmo executivo de multinacional muito potente tem tal regalia. Mas, se fizer bobagem, perde o emprego, o que não acontece com os parlamentares brasileiros.
2 - Um deles, o senador Pedro Teixeira (PP-GO), confessa despudoradamente ao repórter Fábio Pannunzio, da TV Bandeirantes, que quer ganhar 15 lotes de terreno pela prática de tráfico de influência, embora o senador prefira não usar tal expressão, a única cabível.
3 - Passe ou não a anistia ao senador Humberto Lucena, presidente do Senado, e demais "sócios" da gráfica da Casa, já há aí um enorme escândalo até de argumentação. Pelo noticiário desta Folha, muito deputado vota pela anistia por achar a pena desproporcional ao crime.
É o fim do mundo. Crime e pena estavam previstos na legislação quando o senador Lucena e seus pares utilizaram a gráfica. Se o Direito não admite alegar ignorância da lei para escapar de eventual punição, imagine-se então alegar desproporcionalidade entre pena e crime. Qualquer um fica no direito de matar alguém e pleitear anistia, alegando que acha desproporcional a pena prevista para homicídio.
E ainda há quem diga que o Brasil mudou. Talvez. Mas esqueceram de avisar a maioria dos parlamentares.

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