São Paulo, sexta-feira, 20 de janeiro de 1995
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Brasil discute estabilização com Argentina

SÔNIA MOSSRI
DE BUENOS AIRES

O diretor de Planejamento Econômico do Banco Central do Brasil, Francisco Lopes, inicia hoje consulta permanente com o governo argentino sobre o plano de estabilização dos dois países.
Lopes comunica ao ministro da Economia, Domingo Cavallo, que não haverá desvalorização do real por causa da crise mexicana.
O ministro das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia, disse ontem, após reunião com o presidente Carlos Menem, que Brasil e Argentina terão conversas frequentes sobre a política econômica para que não haja "surpresas".
Lampreia discutiu com Menem o efeito da desvalorização do peso mexicano sobre a política econômica brasileira e argentina.
Apesar das demonstrações oficiais de Cavallo de confiabilidade na manutenção da política cambial brasileira, há o receio de desvalorização do real frente o dólar.
Na prática, uma eventual desvalorização do real afetaria ainda mais o Plano Cavallo. Com um déficit na balança de pagamentos de US$ 11 bilhões, o governo argentino conta com um aumento nas exportações para o Brasil.
Uma desvalorização do real frente ao dólar encareceria os produtos argentinos no Brasil.
"O mais importante não é que nós façamos a mesma coisa, mas que tenhamos clareza sobre o que fazemos e que tenhamos um caminho aberto para que não tenhamos surpresas", observou Lampreia.
O chanceler brasileiro afirmou à Folha que Lopes " veio dizer a Cavallo como a equipe econômica está avaliando o quadro brasileiro e o que pretende fazer".
Lampreia foi recebido com honras de Chefe de Estado, o que surpreendeu a diplomacia brasileira. Ele se encontrou com Menem e com o ministro Cavallo.
Após almoço com o chanceler argentino Guido Di Tella, Lampreia afirmou que, em março, os ministros das Relações Exteriores dos países do Mercosul começam a negociar em Paris (França) a integração com a União Européia.

Balança comercial
O resultado oficial da balança comercial e os déficit de novembro e dezembro, divulgados ontem, são apontados pelos empresários como um sinal de alerta para que o governo tome medidas para incentivar a exportação.
"O governo deve agir para que a balança comercial tenha um pequeno superávit", afirmou Roberto Nicolau Jeha, da Fiesp.
Para ele, o governo não deve mexer no câmbio, mas criar medidas que incentivem a exportação, como desonerar impostos e ter linhas de financiamento.
Carlo Barbieri, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Trading, disse que "é hora de ter uma decisão política de incentivo ao setor."
Joseph Tutundjian, da Cotia Trading, afirmou que o governo não deve deixar que as reservas se deteriorem. "É importante atrair investimentos estrangeiros e manter o saldo comercial", afirmou.
Para ele, o déficit não significa uma tendência. "O ex-ministro Ciro Gomes abriu o mercado para segurar a inflação. Agora, a balança deve se estabilizar."
O ideal, afirmou Roberto Gianetti da Fonseca, presidente da Silex Trading, é crescer simultaneamente as importações e as exportações. "Acho até que a importação deve crescer mais rapidamente para acabar com mega superávits."
Michel Alaby, da Associação de Empresas Brasileiras para Integração no Mercosul, afirmou que o governo não deveria antecipar os resultados da balança comercial.

Colaborou a REPORTAGEM LOCAL

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