São Paulo, sexta-feira, 20 de janeiro de 1995 |
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Governo tem de mudar estratégia do Real
CARLOS ALBERTO SARDENBERG
Foi um enorme volume de importações, que abasteceram os mercados, compensando a falta de capacidade de produção da indústria local, e assim impediram tentativas de elevação de preços. Agora está se conhecendo o tamanho da conta. O déficit comercial do país, a diferença entre importações e exportações, chegou em dezembro à casa dos US$ 884 milhões, um vermelho que não ocorria há 20 anos. Como também houve déficit em novembro, de US$ 492 milhões, isso significa que no último bimestre o país esteve na perigosa situação de comprar muito mais do que vende. Assim, a questão que se coloca para o futuro do Plano Real é a seguinte: por quanto tempo se pode segurar a inflação através apenas das importações? Lógica do plano O que aconteceu com o comércio externo brasileiro foi inteiramente de acordo com a lógica do Plano Real. Durante todo o segundo semestre de 94, o governo estimulou importações. Além do dólar barato, os impostos foram reduzidos e as operações facilitadas, como no caso das importações pelo Correio. E as exportações foram prejudicadas com a retirada de vantagens financeiras. Claramente, o objetivo da equipe econômica foi garantir o abastecimento interno a preços estáveis. Deu certo. A equipe econômica sabia também que teria uma conta a pagar, mas ela saiu mais alta do que o previsto. Ainda em dezembro, membros da equipe previam déficit comercial em torno dos US$ 300 milhões. Estava tudo bem porque, mesmo com os resultados negativos do último bimestre, o Brasil deveria encerrar 1994 com um saldo comercial em torno de US$ 11 bilhões. Ou seja, o país tinha gordura para queimar com as vendas de Natal. O saldo do ano continua alto, US$ 10,4 bilhões. Mas a gordura foi queimada mais rapidamente. A reação de curto prazo do governo já foi indicada. Houve restrições à importação pelo Correio, que foi um quebra-galho de Natal, e o restabelecimento de vantagens financeiras que haviam sido retiradas das exportações. E haverá ainda mais incentivos à exportação. Reformas Mas a velocidade com que cresceram as importações é um alerta. Indica que o governo tem menos tempo para manter a estratégia do Plano Real, que é segurar a inflação com dólar barato e abertura, queimando a gordura em dólares, enquanto se providenciam as grandes mudanças, a reforma fiscal e a modernização da economia brasileira. A reforma fiscal equilibra as contas do setor público, de modo que o governo deixa de gastar mais do que pode e assim não é mais causa de inflação. A modernização da economia reduz o custo de produção das empresas locais, que se tornam mais competitivas aqui e na exportação. Isso tudo depende de medidas a serem votadas no Congresso e da entrada de investimentos privados em infra-estrutura, o que ocorrerá se a reforma fiscal for feita. Ou seja, o futuro do Plano Real depende menos da equipe econômica e mais da capacidade do governo FHC aprovar as reformas no Congresso. Texto Anterior: Custo da cesta básica em SP é o menor desde 26 de setembro Próximo Texto: EUA podem pedir que México rompa com Cuba Índice |
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