São Paulo, sexta-feira, 20 de janeiro de 1995
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Patrocínio é função da iniciativa privada

SÉRGIO BARBOUR
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quase 20 anos atrás, quando o inesquecível Caio Pompeu de Toledo lançou a campanha "Adote um Atleta", na Secretaria Municipal de Esportes e Lazer de São Paulo, sugerindo que empresas da iniciativa privada passassem a financiar a preparação de jovens atletas ou de equipes inteiras, muita gente se surpreendeu.
Naquele tempo, havia uma jogadora de basquete procedente de uma pequena cidade do interior paulista, Potirendaba, que revelava enorme talento, mas que poderia ter ficado só na promessa se não tivesse sido beneficiada por aquela campanha: era a campeã mundial Hortência.
Na verdade, o "Adote um Atleta" marcou época. Naquele tempo, o governo não tinha condições de manter equipes. E, de fato, não é sua tarefa patrocinar atletas ou clubes, já que isso deve ficar mesmo para a iniciativa privada. Quando a campanha "Adote" foi lançada, já se sabia que o papel do Estado era outro, daí a prefeitura paulistana ter estimulado a parceria com a iniciativa privada.
Este ano, logo em meus primeiros dias como secretário de Esportes e Turismo, tive oportunidade de dar uma entrevista para a Folha, em que falava sobre minhas idéias a respeito do patrocínio. Ponderei que está na hora de se acabar como uso de empresas estatais para o patrocínio de equipes competitivas de vôlei, basquete e outras modalidades. Lembrei que o ideal seria que esse espaço fosse ocupado por empresas da iniciativa privada, mesmo porque algumas das estatais, como Cesp e Sabesp, não têm concorrência: fornecem serviços de modo absoluto. Neste caso, por que onerar os cofres públicos, em benefício deste ou daquele clube, desta ou daquela cidade, em campeonatos onde as condições de retaguarda devem ser iguais? Deixei claro que aquelas teses eram minhas e que caberia aos novos presidentes das estatais decidir sobre a finalidade de suas verbas. O Banespa, por exemplo, está sob intervenção e já anunciou sua política quanto ao esporte, tendo cortado parte das verbas de patrocínio, mantendo, porém, o incentivo a projetos de modalidades olímpicas. É preciso deixar bem claro que o objetivo do governo Mário Covas é estabelecer uma política de esportes, com a democratização, para que mais pessoas possam praticar as modalidades esportivas. A partir disso, é possível conseguir também qualidade, ou seja, a revelação de um número maior de atletas para competições.
Estamos também diante de fatos que incentivam a participação de empresas privadas como substitutas das estatais no patrocínio das equipes: o esporte brasileiro vem fazendo sucesso. O basquete feminino ganhou o Mundial na Austrália em 1994, o vôlei continua com destaque, teremos agora o Pan-Americano de Mar del Plata e, em 96, a Olimpíada de Atlanta. As empresas sabem disso, percebem que patrocinar equipes dá retorno na mídia. Isso permite o surgimento de novos atletas, dando aos jovens de diferentes classes sociais o direito de praticar esporte para termos gloriosas Hortências e outros grandes atletas antes do ano 2000.

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