São Paulo, sexta-feira, 20 de janeiro de 1995
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Mercado de moda aposta na competição

DA REDAÇÃO

Atitude publica hoje os melhores momentos do debate "Marketing e o Aspecto Comercial da Moda", que reuniu os empresários Renato Kherlakian, proprietário das marcas Zoomp e Zapping, Nardi Davidsohn, da Viva Vida, o estilista Walter Rodrigues, o editor de moda da revista "Elle", Paulo Martinez, e o diretor comercial da Rhodia, Luiz Marco Kramer.
O debate, mediado pelo Diretor de Revistas da Folha, Caio Túlio Costa, fez parte de uma série de três discussões sobre moda que comemorou um ano da página Atitude, em novembro. Na próxima sexta, o tema "Moda Brasileira" encerra a publicação dos melhores momentos dos debates.

Marketing

Nardi Davidsohn - Atualmente está ocorrendo uma revolução e uma oportunidade nova para o Brasil, em termos de produção. Na área de marketing, com a abertura mundial que estou imaginando, acredito que num futuro bem próximo as pessoas e marcas importantes vão acabar se nivelando a nível de produto. As informações estão abertas para todo mundo, estão correndo numa velocidade muito rápida. O que vai diferenciar uma marca de outra é o marketing, a imagem da marca. É isso que vai fazer com que a pessoa escolha uma roupa em detrimento da outra, já que os produtos devem estar parecidos.

Walter Rodrigues - O que vai diferenciar um faturamento maior ou menor são dois pontos: o serviço, fundamental e decisório para quem vai vender. Mas ao mesmo tempo em que você vai ter o seu produto equiparado em qualquer lugar do mundo, a sua idéia vai ter que ser muito mais forte do que a do seu concorrente. Marketing hoje começa a partir do momento que você idealiza uma roupa.

Renato Kherlakian - A idéia principal do marketing atual é o conceito que você tem de roupa e modernidade.

Luiz Marco Kramer - A moda não precisa ser uma coisa de elite. Não sei se é fazendo um desfile na São João ou no parque Ibirapuera. É preciso chegar mais perto do público, que é quem vai realmente consumir. Temos que fazer com que as pessoas saibam que existe moda, que se faz moda, que ela muda, que tem moda bonita e moda feia, que ela pode escolher, que algumas coisas ela nunca vai usar. O importante é mudar. O interessante da moda, é que ela muda e exige um novo consumo.

Aspecto Comercial

Paulo Martinez - Roupa precisa ter qualidade para poder vender. Se não tiver qualidade, se o tecido não for bom, se a Rhodia não começar a pensar na criatividade –ele falou que a Rhodia não faz moda–, não vai dar certo.
Somos muito cruéis em relação à moda. Quando a roupa chega na rua a gente já não quer mais. Queremos sempre alguma coisa à frente. Como editor de moda tenho que ser meio missionário. Tenho o que vai estar na moda dqui a pouco. Isto é marketing e aspecto comercial.

Rodrigues - Acho que o grande marketing da roupa é você lidar com a pessoa que veste a roupa, se sinta desejável e deseje comprar. O mais importante é a minha idéia, minha motivação, minha inspiração. Um músico demora um ou dois anos para fazer um disco e a gente, estilista, é espremido para fazer a cada quatro meses uma coleção que tem que ser brilhante, nova, moderna, maravilhosa e provar para o seu cliente que você se renovou.

Kherlakian - Nós temos hoje a condição de trabalhar. Temos a possibilidade de reduzir o número de itens dentro de uma coleção e de buscar um volume maior na sua comercialização. Sem massificar, mas principalmente para suprir a necessidade de penetração da marca dentro do mercado brasileiro.

Davidsohn - Antes do início da coleção a gente procura ouvir muito a nossa cliente e a nossa vendedora. Grande parte da coleção da Viva Vida é voltada para os desejos da nossa cliente. Ela tem aquilo que ela quer. E, é claro, mesclado com tendências e novidades.

Mercosul

Kramer – Com o Mercosul, acho que o Brasil vai ser o país que mais vai se destacar na produção têxtil. Quer dizer, vamos ter o domínio de uma certa parte do hemisfério. Obviamente que para o crescimento do consumo de tecido você vai precisar de uma confecção e precisando de uma confecção você vai precisar de uma moda, de uma indústria que esteja atuando de verdade.
Tenho certeza de que o Brasil, na cadeia têxtil, vai se impor firmemente dentro do Mercosul. Nós já fabricamos tecidos que se equiparam à produção coreana em termos de qualidade e custo.

Davidsohn - O que está acontecendo no mundo é uma revolução com a abertura dos mercados mundiais. E o Brasil está tendo uma participando nessa abertura. O que vai nascer é um Brasil aberto para o mundo, um Brasil aberto para todos os mercados. E, com certeza, o mercado de moda vai ser um dos que mais vai crescer.

Kherlakian - A profissionalização se faz muito necessária. Precisamos parar com as queixas sobre todas as dificuldades nacionais. Temos que encarar com um pouco mais de naturalidade a função de cada um em todos os setores do mercado.
O mercado vem a cada década ou a cada estação tendo a oportunidade de evoluir no que diz respeito a um bom estilo, a um bom desfile, a uma boa coleção, a uma boa comercialização ou à abertura de novos mercados.

A colunista Erika Palomino está em férias durante o mês de janeiro. A coluna Noite Ilustrada volta em fevereiro.

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