São Paulo, sexta-feira, 20 de janeiro de 1995
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Parente não consegue enterrar

DO YOMIURI SHIMBUN, EM KOBE

Cresce a irritação dos parentes de pessoas que morreram no terremoto e que não conseguem enterrá-las devido aos danos sofridos pelas funerárias.
Na manhã de ontem mais de 3.000 corpos haviam sido levados a escolas, templos e ginásios de esportes na província de Hyogo.
Muitos japoneses que perderam familiares nada podem fazer senão ficar ao lado dos corpos, porque suas casas estão destruídas ou danificadas. Sem perspectivas de marcar uma data para os enterros, cresce o sentimento de frustração pela lentidão do governo.
Na escola primária Shimoyamate, no distrito de Chuo, em Kobe, 40 corpos haviam sido colocados num salão mas só dez deles estavam em caixões.
Kie Suzuki, 14, aluna de segunda série da escola secundária Keimei Jogakuin, perdeu seu avô Tatsuo Kurokami, 83, e sua avó Kiyoko, 72. Kie vivia com os avós.
Ela disse: Eu pretendia dar a minha avó seu doce predileto no seu aniversário, que foi ontem.
Naohisa Kurokami, 41, tio de Kie, disse: Quero levar Kie a minha casa em Akashi, mas está difícil por causa das condições precárias da estrada.
Cerca de 200 corpos foram colocados no ginásio do colégio Nada, no distrito de Higashi Nada. Os corpos tinham etiquetas com nomes, idades e endereços.
Se não posso levar o corpo para casa, pelo menos vou ficar ao lado dele, disse um sobrevivente.
No centro esportivo Oji, no distrito de Nada, havia cerca de 200 corpos. O governo local de disse que estava fazendo o possível para organizar serviços funerários, mas que era impossível confirmar a data dos enterros porque as funerárias também haviam sofrido os efeitos do terremoto.
Entendo o sentimento das famílias enlutadas, mas estamos vivendo circunstâncias anormais, disse Akira Kobayakawa, funcionário da divisão de prevenção de desastres do governo local.
Yoshitaka Yamaguchi, 52, funcionário de uma funerária em Chuo, disse que as funerárias só são autorizadas a cremar determinado número de corpos, de modo que as demoras são previsíveis.
Ele disse que as funerárias não têm féretros suficientes para tantos cadáveres, de modo que também devem ser usados picapes.
No caso de pessoas cujas casas foram destruídas, precisamos colocar seus corpos no mortuário, porque não há outro lugar, disse Yamaguchi. Pretendemos fazer um enterro conjunto na terça-feira da próxima semana.
Os habitantes de Kobe disseram que a prefeitura da cidade pediu que levassem os corpos de seus familiares para casa até que fosse possível organizar sua cremação.
Nesta confusão toda é difícil conseguir um carro para transportar corpos ao crematório, disse uma mulher de 37 anos. O número de crematórios é limitado, e acho que não vou conseguir cremar o corpo de meu amado.
World Media

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