São Paulo, sexta-feira, 20 de janeiro de 1995
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Máfia japonesa presta ajuda às vítimas

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O maior grupo do crime organizado japonês está participando das operações de ajuda às vítimas do terremoto em Kobe.
A gangue Yamaguchi-gumi está distribuindo de graça pão, sopa, fraldas, leite em pó e água de um poço localizado na sua sede.
Por volta do meio-dia de ontem, cerca de 200 pessoas formavam uma fila diante da sede da gangue, pouco danificada pelo tremor.
Fazer o trabalho do governo durante uma emergência apenas mostra a humanidade e o senso de dever deles, disse uma mulher de cerca de 40 anos, referindo-se às duas qualidades mais valorizadas no submundo japonês.
Cabe ao indivíduo decidir se vai aceitar ou não os favores deles, mas eu vou aceitá-los, completou.
Originária da cidade de Kobe, a Yamaguchi-gumi tenta legalizar suas ocupações desde 1992, quando uma lei criminalizou algumas de suas principais atividades, como extorsão e cobrança de dívidas por métodos violentos.
Os integrantes das gangues superorganizadas da yakuza –nome genérico dos grupos mafiosos japoneses– são conhecidos por terem parte do corpo tatuada.
Ao mesmo tempo que a Yamaguchi-gumi ajudava as vítimas, autoridades eram criticadas pela demora ou inépcia no socorro.
Onde está a água, onde está a ajuda. Para que pagamos impostos?, protestava uma mulher idosa num centro de ajuda em Kobe.
Não achamos a resposta lenta. Mas, quando alguém observa os caminhões de ajuda presos nos congestionamentos e os incêndios sem combate, pergunta-se se não há falta de providências precisas.
É difícil acreditar que essa é a 'superpotência econômica Japão', afirmou o jornal.
Autoridades locais admitiam ter água e comida para apenas um terço dos refugiados, enquanto funcionários do governo diziam que a operação de salvamento se processava lentamente.
Devíamos ter chamado as Forças de Autodefesa (Exército) muito antes, disse o vice-ministro-chefe do gabinete, Nobuo Ishihara. O governo foi lento em calcular os danos e lento em agir.
A maior parte da cidade continua sem eletricidade, água ou gás, o que significa que a maioria dos residentes não pode cozinhar.
Cerca de 270 mil pessoas estão abrigadas em escolas e ginásios com falta crônica de calefação, água, comida ou banheiros limpos.

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