São Paulo, sábado, 21 de janeiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Brasileiro de 13 anos vira 'sábio' dos budistas

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

Ele tem apenas 13 anos, mas já filosofa como um sábio. Há seis meses, num monastério budista no sul da Índia, o brasileiro Michel Lenz Cesar Calmanowitz foi entronizado como um lama (mestre espiritual) tibetano.
"Todo dia você deve fazer uma coisa boa a mais e uma coisa ruim a menos. Assim, mesmo não querendo, você vai acabar atingindo a paz", diz, rindo, lama Michel.
Ser lama significa o reconhecimento que Michel já está preparado para divulgar a filosofia contida nos textos sagrados do budismo da tradição tibetana.
Na última quinta-feira, num templo budista em Perdizes (zona oeste de SP), cerca de 50 pessoas ouviram lama Michel filosofar sobre a busca da paz interior.
Michel não é o primeiro brasileiro a ganhar o título de lama. Desde 1983, o carioca Antônio Carlos Costa e Silva vive nos EUA como lama Shakya Zangpo.
Michel está em São Paulo visitando parentes e deve voltar para a Índia em um mês.
Segundo sua mãe, Isabel Lenz Cesar, desde os 8 anos Michel vinha dando sinais de que seria a reencarnação de um líder budista.
Em dezembro de 1993, durante uma viagem ao Nepal, Michel teria tido uma série de "visões" e decidiu que queria ficar no Oriente e se dedicar ao budismo.
Por indicação do lama Gangchen Rimpoche, Michel foi para o monastério de Sera-Me, no sul da Índia, onde vivem cerca de 3.000 monges budistas.
Em maio passado, Gangchen Rimpoche anunciou que Michel é um tulku, um lama especial. Significa que ele foi reconhecido por seus pares como tendo vivido inúmeras reencarnações ao longo dos séculos. "Não me lembro de todas", ele logo avisa, antes que a pergunta seja feita.
Em Sera-Me, lama Michel vive uma rotina de estudos e estudos.
Acorda às 6h30, reza até as 7h, memoriza textos budistas até as 8h, toma café, volta a memorizar os textos até as 10h, tem aulas de tibetano, depois aulas de português e, às 12h, faz pausa para almoçar arroz, lentilha e vegetais.
Durante a tarde, Michel estuda geografia, inglês e filosofia, além de fazer lições de casa. Depois do jantar vegetariano, volta a memorizar os textos que aprendeu.
"No monastério, todo dia eu falava 'bom dia' para uma pessoa e ela respondia, com raiva: 'Vai comer!' Eu ficava chateado. Até que aprendi o ensinamento budista: eu não devia pegar a raiva dele. A raiva dele devia ficar com ele", conta o pequeno buda brasileiro.
A história contada por Michel revela que mesmo num templo consagrado à meditação e à paz há pessoas iradas, raivosas. "Todos estão lá para atingir a paz, mas não quer dizer que já atingiram."
Michel não gosta de esportes, nem de TV. Bebe refrigerantes, mas sem grande emoção. "Não sinto falta de nada", diz.

Texto Anterior: Ciclista é atropelado em elevado e morre ;Motorista
Próximo Texto: Hospitais de SP são suspeitos de fraudar o SUS
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.