São Paulo, sábado, 21 de janeiro de 1995 |
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O novo governo e as drogas
PAULO AFONSO CARUSO RONCA O novo governo deve abrir o debate sobre a descriminalização das drogas urgentemente. Ninguém melhor do que FHC para dar trato científico a tal discussão, dado que sentiu na carne a injustiça de perder uma eleição, também por ter dito que havia fumado maconha.Devemos reconhecer o fato sem a menor vergonha: o futuro presidente não entende nada de drogas, nem a sua equipe, nem eu, nem ninguém! Não temos a menor idéia do que fazer, não há planos, nem programas e as discussões esbarram em preconceitos e numa legislação que causa vergonha a um estudante de direito. Os fisiologistas divergem sobre os efeitos e os educadores não sabem que atitude tomar quando um aluno fuma maconha. Há os que crêem na invasão dos morros e que as drogas, um dia, terão fim. Uns rezam, outros esperam pela ação policial. Estamos absolutamente perdidos! A questão fundamental não está mais na liberação porque, liberadas ou não, as pessoas irão consumir. O fato está consumado: as drogas vieram para ficar e, por exemplo, nos EUA, inacreditavelmente repetindo a Lei Seca, são consumidos bilhões de dólares numa verdadeira "indústria" antidrogas, com mínimos resultados. Descriminalizar inclui a organização e orientação do plantio, venda e consumo de drogas, via leis adequadas. A primeira delas seria: a proibição de qualquer tipo de propaganda, incluindo tabaco e álcool. Defendo a descriminalização gradual, pois acho que a clandestinidade é no campo social o que a Aids é no campo sexual: o mesmo câncer! Assim como na Aids, os oportunistas-traficantes valem-se da clandestinidade para perpetuar seus impérios. O círculo é vicioso e o raciocínio é lógico: o consumo atrai as vendas, que atraem a repressão, que eleva o preço, que dá mais lucro, que aumenta o poder! A formação da personalidade do filho deve preocupar mais os pais do que o consumo propriamente dito. A experiência mostra que drogas que surgem em personalidades sadias tendem a ir embora ou a não causar danos. Todavia, numa sociedade machista, onde muitos de nós "ensinamos" nossos filhos a tomar uma droga pesada, que é o álcool, pasmem, teremos que encontrar formas para "orientá-los" no convívio, por exemplo, com a maconha. Eles farão isto com os nossos netos com maior tranquilidade e mais inteligência do que nós. Creiam! Prisões, chacinas, Exército, mortes, ações da polícia: a força tem sido a única saída. Se o futuro governo orientar tais discussões, surgirão idéias e saídas mais inteligentes. Torço para não ser tarde demais. Texto Anterior: A invasão das mulheres Próximo Texto: Três morrem chacinados em bar de SP Índice |
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