São Paulo, sábado, 21 de janeiro de 1995
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Ney Matogrosso resgata sucessos de Ângela Maria

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

A moda pegou. Os resgates musicais dominam hoje a MPB. Uns, como Cauby, resgatam-se a si próprios interpretando standards em duetos com astros da MPB. Outros, como Ney Matogrosso, resgatam ícones semi-esquecidos.
Ney acaba de lançar "Estava Escrito", que recupera sucessos gravados por Ângela Maria. Segue linha inaugurada em 93 por Maria Bethânia com disco de sucesso dedicado a Roberto e Erasmo.
O veio estava aberto. Nana Caymmi gravou um disco de boleros e outro de Dolores Duran, Caetano lançou um de canções em espanhol, roqueiros renderam tributo a Roberto e Erasmo, Gal vem aí interpretando Chico e Caetano.
Se o modismo faz lembrar similares mundanos (axé, pagode), a prática expande na MPB a ausência de preconceito.
Com exceção de "Rei", pseudo-tributo em que se preferiu zombar de Roberto e Erasmo a reconhecer seu valor, os resgates têm primado pela reverência sem preconceitos. É o caso de Bethânia e Ney. Seria o caso de Caetano, não fosse certa dose de pretensão.
Ney se arrisca particularmente. Não interpreta um autor, mas um intérprete. Convida a própria homenageada a cantar em uma faixa. Tudo se esclarece quando as vozes se colocam lado a lado: Ângela prevalece em drama, em despudor. Ney se afirma como humilde aprendiz.
A humildade se manifesta às vezes como monotonia –o disco se arrasta em certos momentos. "Nem Eu", de Caymmi, não se equipara à antológica versão de Gal em disco de 76 dedicado sem modismos ao compositor.
"Estava Escrito" cresce nas últimas faixas, "Lábios de Mel" e "Babalú", que assumem afinal o kitsch, fazendo a ponte entre Ângela e os Secos & Molhados.
A cafonice de "Lábios de Mel" remete a "Feitio de Oração", de Noel, subvertida em despudorada gafieira por Clara Nunes (também esquecida, não estivesse Marisa Monte recuperando algumas de suas –inúmeras– qualidades).
Como modas às vezes rendem bons frutos, resulta doce conhecer Ângela através de Ney, ou sonhar com um "Marisa Canta Clara".

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