São Paulo, sábado, 21 de janeiro de 1995
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Globo de Ouro abre corrida para o Oscar

ANA MARIA BAHIANA
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES

A julgar pelos indicados para os Globos de Ouro –que serão entregues hoje à noite no hotel Beverly Hilton, em Los Angeles– a corrida para o Oscar já se definiu: de um lado, o favorito "mainstream", comercial –"Forrest Gump", de Robert Zemeckis–, de outro, o querido da crítica e dos alternativos –"Pulp Fiction", de Quentin Tarantino.
"Forrest Gump" tem sete indicações para os Globos, e são todas nas categorias certas: filme, direção, ator, roteiro. "Pulp Fiction" tem seis, e também são nas categorias importantes.
A separá-los está um fator inefável que poderíamos chamar de "o impulso premiador", um elemento que, a julgar pelas lições da história, tende a consagrar o filme de amplo espectro, excepcionalmente bem-sucedido comercialmente, um tanto sentimental, sempre a favor dos valores nobres.
"Forrest Gump" e "Pulp Fiction" são, ambos, ótimos filmes, bem escritos, bem dirigidos, bem interpretados, de narrativa escorreita e sintaxe exata.
Mas "Forrest Gump" deve ganhar quase tudo –dos Globos aos Oscars– e "Pulp Fiction" não, porque o primeiro tem aquele "algo mais": mais de US$ 300 milhões somente na bilheteria americana, e a qualidade intangível de, algum modo, traduzir o inconsciente coletivo da América.
Os fortes de "Pulp Fiction"? Roteiro –um tradicional "prêmio de consolação"– e atores –John Travolta para melhor ator será uma surpresa contra Tom Hanks, mas Samuel L. Jackson como coadjuvante tem chances.
Entre "Forrest Gump" e "Pulp Fiction" está o segundo escalão de filmes premiáveis: "Quatro Casamentos e um Funeral", "Lendas da Paixão", "Quiz Show", "O Rei Leão", "Nell" –pálidos representantes de uma das safras mais fracas dos últimos tempos, o que não deixa de ser ao mesmo tempo irônico e significativo.
1994 bateu todos os recordes da indústria cinematográfica americana: 1,3 bilhões de ingressos vendidos, mais de US$ 5,4 bilhões arrecadados. Isso tudo para ver um lote de filmes entre os quais, com muito esforço, se consegue tirar um punhado de obras dignas de premiação.
E, mesmo assim, é preciso muita boa vontade para imaginar que filmes como "Nell" e "Lendas da Paixão", ou mesmo uma comediazinha charmosa como "Quatro Casamentos e um Funeral", estejam no mesmo nível dos dois favoritos, ou mesmo do erudito "Quiz Show", que é tão bom ou melhor do que eles, mas culto demais para ser um favorito.
Safras desiguais, mas menos desencorajadoras do que esta, já resultaram, no passado, em melhores chances para filmes menores, que fogem dos parâmetros de "obra premiável" (larga escala, megasucesso, valores altissonantes etc.): "Conduzindo Miss Daisy", por exemplo, ou, mais recentemente, "Traídos pelo Desejo".
Mas é um fator que pode aumentar mais as possibilidades de "Lendas da Paixão", de "Nell" ou de "Quatro Casamentos e um Funeral" que de "Pulp Fiction", violento e cínico demais para receber os aplausos unânimes do establishment hollywoodiano.

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