São Paulo, sábado, 21 de janeiro de 1995
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Médicos alertam para epidemia

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Funcionários da cidade de Kobe alertaram que uma epidemia de gripe pode atingir os cerca de 300 mil desabrigados alojados em escolas e outros prédios públicos após o terremoto da última terça.
"Estamos muito preocupados com uma epidemia de gripe, especialmente entre as crianças", afirmou Shunichi Fukuda, porta voz do Hospital Central dos Cidadãos de Kobe. "Já há muitas crianças com febre."
Segundo Shigeo Kaneko, porta voz do Hospital do Aço, mantido por uma empresa de Kobe (pronuncia-se Kô-Bê), disse que por causa do forte inverno muitos residentes já estavam vulneráveis antes mesmo do terremoto.
Há quatro dias não há água suficiente para as pessoas tomarem banho ou lavarem as roupas. Também estão em falta, ou com suprimento inadequado, comida, banheiros limpos, fraldas, leite para crianças e absorventes higiênicos.
Longas filas se formaram diante dos poucos supermercados que reabriram ontem. Problemas no abastecimento estimularam as atividades do mercado negro.
Um desabrigado disse ter comprado uma lata de chá pelo equivalente a US$ 10, dez vezes o seu preço normal.
As esperanças de encontrar mais sobreviventes do tremor diminuíram ainda mais ontem, quando número de mortos e desaparecidos passou de 5.200.
Ainda assim, sete mulheres foram resgatadas com vida 75 horas após o terremoto. As sobreviventes têm entre 60 e 85 anos de idade.
A polícia informou que já foram recolhidos 4.555 corpos e ainda há 665 pessoas desaparecidas. Os feridos já somam 23.764.
Os bombeiros continuavam lutando contra o fogo na cidade. Fortes ventos e tubulações de água rompidas complicavam o combate aos focos de incêndio.
Prédios danificados seguiam ameaçando a vida de residentes que ignoraram avisos e permanecem em suas casas em vez de seguir para os centros de evacuados.
Um prédio de dois andares desabou no bairro de classe alta de Ashiya. Pelo menos 20 pessoas ficaram presas entre os escombros.
Mais de 40 mil prédios desabaram após o terremoto. Muitos foram construídos sem preocupações específicas com terremotos, já que a área não era vítima de tremores há muitos anos.
O terremoto de Kobe ocorreu ao longo de uma falha geológica sob a cidade. A falha estava inativa há mais de um século.
Tremores secundários voltaram a ser sentidos ontem na cidade. O mais forte, de 3,6 pontos na escala Richter, abalou a cidade às 15h38 (4h38 em Brasília).
A Agência Meteorológica atualizou de seis para sete a força do terremoto de terça-feira na escala japonesa de sete pontos.
Essa é a primeira vez que um tremor atinge o ponto mais alto da escala desde que ela foi adotada em 1949. Na escala Richter, o terremoto foi de 7,2 pontos.
O ministro Sadatoshi Ozato (Diretoria Geral das Agências de Desenvolvimento de Hokkaido e Okinawa) foi encarregado de organizar as operações de socorro.
O governo japonês vem sendo sistematicamente atacado pela lentidão e inépcia na ajuda às vítimas do terremoto.
Jornais japoneses dizem que a demora no início das operações pode ser responsável pelo grande número de vítimas.
O primeiro-ministro, Tomiichi Murayama, admitiu na abertura da sessão parlamentar as falhas do governo no socorro às vítimas. Oposicionistas criticaram o governo durante os debates.
Os parlamentares fizeram ontem uma oração pelas vítimas do terremoto, a primeira cerimônia do gênero desde o final da Segunda Guerra Mundial.
Ontem, pela primeira vez desde o abalo, policiais controlavam o trânsito nas poucas ruas transitáveis do centro de Kobe.
Anteontem, o prefeito de Kobe, Kazutoshi Sasayama, pediu uma linha de crédito de US$ 40 bilhões para a reconstrução da cidade.

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