São Paulo, sábado, 21 de janeiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Somos injustiçados?

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Num artigo publicado na Folha, o embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima critica a precisão de documentos publicados por entidades internacionais de direitos humanos sobre o Brasil. Ele pinça frases que, de fato, exageram –e, aí, tem razão. Mas a pergunta essencial é: a imagem do Brasil no exterior é injusta?
Impossível negar avanços, registrados, aliás, em documentos de entidades internacionais: basta ver a redução expresssiva dos níveis de matança praticada pela Polícia Militar de São Paulo. Ou os esforços para punir responsáveis pelas chacinas do Vigário Geral ou Candelária.
Há avanços, inclusive, no Itamaraty: em Viena, onde se realizou o encontro mundial de direitos humanos, a chanceleria se bateu pelas teses mais avançadas. Luiz Felipe Lampreia, no seu discurso de posse, deu ênfase à questão dos direitos humanos, sem esconder nossas manchas.
A questão central: continuamos sendo o país da impunidade. É algo que se prova com fatos inquestionáveis. Basta comparar o número de assassinatos com o número de inquéritos abertos ou punições. Apesar das exceções, a regra ainda é a morte impune. Uma evidência reconhecida pelo presidente Fernando Henrique Cardoso que, em seu discurso de posse, prometeu combater o massacre diário dos segmentos mais vulneráveis.
Não poderia deixar de dar meu testemunho. As entidades internacionais como Anistia e Human Rigths Watch desempenham um papel fundamental. Alertaram a opinião pública mundial, gerando pressão em nossos governantes, atando a omissão e mesmo cumplicidade.
A maioria dessas pessoas trabalha de graça, apenas por idealismo –muitas delas colocam suas vidas em risco para denunciar a opressão. O Brasil deveria ter uma dívida de gratidão por essas entidades, por ajudar o país a ser mais decente.

PS – Prova de que existe preocupação com precisão: nos últimos 12 meses, o Human Rigths Watch está revendo e investigando todos os números e casos já publicados sobre o Brasil. Serão divulgados neste semestre em livro pela editora da Universidade de Yale (EUA) e Companhia das Letras. Todos os avanços são registrados.

Texto Anterior: Tequila-2 e Orloff
Próximo Texto: Ovos e povos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.