São Paulo, terça-feira, 24 de janeiro de 1995
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"Voodoo Lounge" é um show de vídeo

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

O novo deus do rock tem dimensões sobre-humanas, como convém às divindades. É o telão Jumbotron de alta definição, instalado no centro do palco gigantesco do show "Voodoo Lounge", dos Rolling Stones, verbete do pop.
Jumbotron, último berro tecnológico. Ele domina o altar do rock construído para a adoração da banda-mãe. Perto dele, o cantor Mick Jagger, os guitarristas Keith Richards e Ron Wood e o baterista Charlie Watts viram ácaros. Eles só ganham existência quando Jumbotron os projeta.
Eis a primeira impressão. Os shows de Madonna e Michael Jackson no último ano são festinhas "pocket" se comparados ao dos Stones.
Os músicos estão ali meio não estando. Única realidade é a virtual, emitida pelo telão. Revezam-se nele imagens reais e geradas por computador e vídeo. A língua da banda surge antisséptica, envolta por uma camisinha. O logotipo de "Voodoo Lounge" –uma "demoiselle d'Avignon" com máscara afro– dança ao lado de Jagger, supera-o na irrealidade dos movimentos.
Ainda assim, os Stones conseguem se impor. Afinal, aquele quarteto de falsos vermes desenrolam em palco um repertório de 27 músicas, entre clássicos que fizeram a história da banda e faixas do seu 22º disco de estúdio (sem contar os 14 restantes, entre trabalhos ao vivo e coletâneas), lançado em abril de 1994.
Para ajudá-los, 3,8 milhões de watts, uma potência sete vezes maior do que a habitual usada em megashows no Brasil.
Os Stones tocam rocks, blues e baladas básicos, que a banda toca como se estivesse num pub. Gosta de improvisar (leia texto abaixo). Em poucos segundos, a força musical dos Stones submete Jumbotron ao regime do rock'n'roll.
Jagger pula e rebola pelas rampas como se não fosse um avô de 51 anos. Sua voz está mais grave e definida do que a que os fãs se acostumaram a ouvir. Richards sustenta a pose de rebelde e a técnica à guitarra. Wood e Watts mantêm a sobriedade.
Por ironia, os sumos-sacerdotes do rock desembarcam num verão brasileiro em que o rock anda fora de fashion. Pouco importa. Três décadas de espera justificam a peregrinação de várias gerações ao estádio. Os Stones promovem o congresso das idades do rock. Precisam de alta tecnologia para atingir todos.

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